Estados Limites ou Bordeline |
Definição O primeiro a utilizar a expressão “estados limites” no sentido atual, isto é, para designar os casos que ocupam a linha divisória “entre a loucura e as diversas excentricidades dos indivíduos normais” (Mack, J.E. Estados Limites en Psiquiatria, Ed. Toray, Barcelona, 1976) foi Emil Kraepelin (1856-1926). Em seguida
foram descritos diferentes tipos de personalidade (personalidade
esquizóide, personalidade ciclotímica) que, acreditava-se,
assemelhavam-se A partir do artigo “Caráter e Erotismo Anal” (Ed. Standard da Obra Psicológica Completa de Sigmund Freud, vol. IX, Ed. Imago, R.J.), Freud e vários seguidores passaram a pesquisar a associação entre traços do caráter e componentes pulsionais. Foram reconhecidos tipos de caráter relacionados com as fases libidinais do desenvolvimento (oral, anal, fálica). C. G. Jung (1875-1961) também contribuiu para este estudo com seus tipos extrovertido e introvertido. Wilhelm Reich (1897-1957) descreveu as manifestações clínicas de transtornos caracterológicos de diversos tipos: impulsivo, compulsivo, histérico, masoquista e outros. Franz Alexander (1891-1964), sob o nome de “caráter neurótico”, também estudou estes tipos de transtornos e os distingüiu dos casos neuróticos, dos psicóticos, dos perversos e dos sociopatas. Helen Deutsch (1884-1982), descreveu um tipo particular de caráter, que denominou ”personalidade como-se”. Em 1949, Paul H. Hoch e Phillip Polatin cunharam o termo “esquizofrenia pseudoneurótica” para um grupo de pacientes que diferenciaram dos psiconeuróticos e dos esquizofrênicos. Em 1953 Robert P. Knight publicou dois trabalhos sobre o diagnóstico, psicodinâmica e tratamento de pacientes limite (“Bordeline States” e “Management and psychotherapy of the bordeline schizophrenic patient”, ambos no livro Psychoanalytic Psychiatryand Psychology, vol. I, Int. Universities Press, NY). Em 1963 John Frosch diferenciou entre os chamados casos limite um subgrupo que denominou de “o caráter psicótico”, o qual apresenta uma grave perturbação das relações objetais, defesas egóicas primitivas que permitem a irrupção na consciência de material do Id, grave perturbação da capacidade adaptativa e da relação com a realidade, mas conserva o teste de realidade. A partir da década de 60 se inicou o
estudo sobre a
organização da
personalidade dos casos limite, procurando
entender seus conflitos e as dificuldades de
funcionamento do
ego.
Otto Kernberg iniciou em 1966 um extenso estudo sobre este tipo de paciente e nele incluiu as neuroses polissintomáticas, as tendências paranóides e hipocondríacas, os transtornos sexuais diversos, as personalidades esquizóides e ciclotímicas, os transtornos dos impulsos(alcoolismos, toxicomanias) e alguns estados depressivos e sado-masoquistas. Este autor insiste na cisão como mecanismo de defesa fundamental deste tipo de organização mental e postula uma hierarquia de níveis de organização da patologia do caráter de acordo com a maturidade das funções do ego e do superego e a qualidade das relações objetais. Os estudos de Margareth Mahler sobre o desenvolvimento infantil, sobre a autonomia do ego e sobre o processo de separação-individuação influiram bastante nos trabalhos relacionados com pacientes limite.
Clínica Do
ponto de vista psicodinâmico, refere-se
a uma estrutura que apresenta teste de realidade preservado,
persistência de identificações iniciais contraditórias em um arcabouço
não sintetizado que conduz a uma falta
de
integração do
ego, uso predominante da
cisão como mecanismo defensivo e
uma fixação da fase de
reaproximação do processo de
separação-individuação, com a conseqüente instabilidade do
self, falta de
constância objetal,
superdependência dos objetos externos,
incapacidade de tolerar a ambivalência e
uma
Atualmente existe uma controvérsia teórica a respeito de como conceituar a organização bordeline de personalidade: seriam decorrentes de conflitos e defesas (tal como na neurose), seriam decorrentes de parada no desenvolvimento devido a relacionamentos insatisfatórios ou seria um desvio do desenvolvimento baseado na adaptação a objetos primários patológicos? |