Definição
Embora o termo psicose tenha surgido apenas em meados do século XIX no
bojo da constituição do saber psiquiátrico, a loucura é um fenômeno humano interpretado
e estudado desde os tempos bíblicos. Portanto, o tema é antigo e bastante amplo.
É um transtorno psiquiátrico, e uma das principais características evidente num
indivíduo com esse distúrbio é a desconexão com a realidade, que se revela em alucinações,
delírios, e comportamento inadequado.
Tipos
Orgânicas: são aquelas que acompanham certas doenças somáticas.
Funcionais: cursam sem qualquer alteração orgânica.
Histórico
A Psicanálise tem se dedicado ao estudo das psicoses funcionais desde
Freud. Para
ele, a psicose funcional é conseqüência do aniquilamento do ego. Mas, oitenta e cinco anos
depois dele ter feito esta formulação no Caso Schreber
(Edição Standard da Obra
Psicológica Completa de Sigmund Freud, vol. XII, Ed. Imago, R.J.,1976), a reposta
não é mais tão simples assim, e nem mesmo a idéia desenvolvida no citado artigo
permanece consensual na Psicanálise.
Na Psicanálise vigoram, hoje em dia, basicamente duas concepções diferentes a cerca
do fenômeno psicótico. Alguns psicanalistas concebem a psicose como uma expressão
de regressão
mental, enquanto que outros a entendem como expressão de desorganização do
ego. O curioso é que estas duas abordagens podem ser encontradas no texto freudiano.
Mesmo entre os que a consideram uma desorganização mental, não existe consenso sobre
o que se desorganiza na mente e por que ocorre esta desorganização. O estudo e a discriminação entre essas várias correntes psicanalíticas foi feita
por D. Tenenbaum em seu livro Investigando Psicanalíticamente as Psicoses
(Ed. Sette
Letras, R.J., 1999).
O texto freudiano fala de dois tipos de desorganização
mental: a do ego, que levaria a uma psicose esquizofreniforme e a do superego, que
provocaria uma psicose afetiva, mono ou bipolar.
No estudo dos fatores desencadeantes da desorganização do ego, duas vertentes podem
ser evidenciadas. A primeira entende a desorganização do ego como fruto de uma sobrecarga
instintual e/ou pulsional e/ou da incompetência do ego em lidar com os impulsos básicos do ser humano - Eros e Tanatos. Os que acompanham
Freud falam que na psicose funcional há uma incompetência egóica em administrar a emergência
de certos impulsos libidinais,
notadamente os homossexuais decorrentes de problemas na experiência edípica. Aqueles que seguem Melanie Klein defendem a
concepção de que a psicose funcional decorre da incapacidade egóica em lidar com
os impulsos agressivos.
A segunda vertente privilegia o grau
de funcionalidade do ego dado pela possibilidade de articulação entre os processos
cognitivos e os processos afetivos. Entende assim a desorganização do ego como fruto
de uma incompetência individual e circunstancial na articulação destes dois processos.
Aplicando os conhecimento psicanalítico sobre os processos afetivos e sobre a dinâmica mental
em conjunto com o conhecimento sobre os processos cognitivos, ambos fundamentais
para o conhecimento da funcionalidade do ego, tenta entender individualmente a incompetência
do ego em lidar com uma situação específica da vida da pessoa.
Clínica
Embora a experiência clínica com pacientes psicóticos por vezes nos mostre adultos
comportando-se de modo parecido com crianças e crianças comportando-se como se fossem mais crianças
ainda, chegando, por
vezes, a perder o controle dos esfíncteres, da marcha e de
outras funções que já haviam sido alcançados,
estes fatos são frutos
da desorganização de funções mentais e não regressão a comportamentos primitivos.
A desorganização do ego pode ser um fenômeno transitório ou
não, necessita
de um ego frágil para ocorrer e, uma vez instalada, lembra certas
características do funcionamento mental mais primitivo, seja do ponto de vista filogenético
ou ontogenético.
Por ser o ego que operacionaliza a articulação dos diversos sistemas
mentais (os sistemas identificatórios, os sistemas mnêmicos, os sistemas perceptivos,
os sistemas cognitivos, os processos afetivos etc.) com os sistemas biológicos,
qualquer alteração no funcionamento do ego poderá afetar não só o funcionamento
dos sistemas mentais (gerando os sintomas psicopatológicos), como a articulação
destes com os sistemas biológicos (gerando fenômenos psicossomáticos), como também
a experiência existencial como um todo (a integração dos fatos experenciados aos diversos
sistemas em funcionamento na mente). O adequado funcionamento do ego é fundamental
para que as experiências cognitivas, afetivas e sensoriais configurem-se em experiências
existenciais experenciadas como normais.
O comprometimento persistente e definitivo do ego é conhecido pela Psiquiatria e pela Psicanálise
com o nome de defeito psicótico. Ainda não sabemos como estes defeitos se instalam
e até que ponto são permanentes apenas para as técnicas psicoterapêuticas atuais.
Ainda não sabemos, portanto, até que ponto um defeito psicológico, uma vez instalado,
é reversível, quais são reversíveis e quais não o serão jamais. O papel dos mecanismos
de defesa do ego no surgimento destes defeitos também ainda não foi devidamente
estudado, assim como o papel das
as deformações adaptativas do ego.
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