Definição
Expressão utilizada por Freud para designar o
trabalho de integração das experiências vividas, sejam excitações
somáticas, estímulos externos ou informações, ao mundo mental.
Histórico
Segundo o Vocabulário de Psicanálise (J. Laplanche e J.-B. Pontalis, Ed.
Moraes, 3ª edição, Lisboa, 1976), este conceito começou a ser
desenvolvido no artigo “Estudos sobre a Histeria” (Edição Standard da
Obra Psicológica Completa de Sigmund Freud, vol. II, Editora Imago,
R.J.), escrito em 1893-1895 conjuntamente por S. Freud e Joseph Breuer
(Viena, 1842-1925).
Ainda segundo Laplanche e Pontalis, ambos partiram
dos estudos anteriormente feitos por Jean-Martin Charcot (Paris,
1825-1893), que dizia existir “um momento de elaboração psíquica entre o
traumatismo e o aparecimento dos sintomas”. Desenvolvendo a idéia
inicial de Charcot, Freud vai dizer que a experiência se torna
traumática ao não ser elaborada. E, ainda neste artigo, Freud descreve a
elaboração como sendo o processo de “integração [do acontecimento] no
grande complexo de associações”.
Infelizmente, Freud escreveu apenas mais um artigo dedicado ao tema. Foi
no trabalho “Recordar, Repetir e Elaborar” (Edição Standard da Obra
Psicológica Completa de Sigmund Freud, vol. XII, Editora Imago, R.J.),
escrito em 1914, que Freud, diferenciando estas três funções mentais,
descreveu uma importante dinâmica que as
inter-relaciona com a consciência.
Nele, Freud lança algumas idéias de
como se dá a transformação de um impulso (ou quantidade de energia, na
linguagem da primeira tópica) em pensamento
(ou qualidade psíquica, também na linguagem da primeira tópica). A
experiência não elaborada (e, por esta razão, traumática) se mantém fora
dos processos associativos e, de forma inconsciente, passa a se
apresentar à mente sempre que for estimulada por alguma situação interna
e/ou externa, gerando os processos de repetição chamados por Freud de “compulsão
à repetição”. A transferência e o
acting-out são exemplos deste tipo de
repetição.
Clínica
O
efeito traumático de uma experiência decorre da impossibilidade da mente
em elaborá-la, integrá-la na trama existencial.
O
processo de elaboração costuma ser iniciado a partir de uma compreensão
ou de uma percepção interna que ocorra de modo claro e imediato
(insight) sobre algum aspecto pessoal novo ou que até então estava sendo
mantido dissociado da vida mental (por negação,
repressão, recusa
ou rejeição). O insight, que é sempre uma
vivência perturbadora, pode se dar a partir de sonhos, leituras, atos
falhos, reflexões pessoais e nas relações pessoais.
A
elaboração é um processo lento e trabalhoso que tem por objetivo a
inserção deste novo conhecimento ou de uma determinada experiência
vivida na trama histórico-existencial da pessoa.
É um processo sempre
transformador e é um aspecto decisivo de qualquer tratamento. São três
as maneiras pelas quais a mente tenta elaborar uma experiência: através
da consciência,
da reencenação da experiência
e de meios culturais (livros, teatro, cinema, televisão etc.)
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