Definição
Clinicamente, é a
compulsão de certos indivíduos a repetir situações aflitivas e até mesmo
penosas durante o
curso de suas vidas, sem reconhecer sua própria
participação em ocasionar tais incidentes ou o relacionamento
das
situações atuais com experiências passadas. (Moore, B.E.; Fine, B.F.
Termos e Conceitos psicanalíticos;
Ed. Artes Médicas, PA, 1972).
Natureza
do fenômeno
Freud se baseou na
observação empírica de quatro fatos psicológicos para desenvolver sua
teoria sobre a
compulsão à repetição:
-
os sonhos que ocorrem nas
neuroses traumáticas nos quais a situação traumática se repete;
-
a
tendência dos pacientes repetirem experiências dolorosas passadas
durante o processo psicanalítico;
-
as neuroses de destino;
-
certos
tipos de jogos infantis.
Na elaboração teórica
que Freud lhe dá, a compulsão à repetição é considerada um fator
autônomo, irredutível em
última análise a uma dinâmica conflitual onde
não interviesse senão o funcionamento conjugado do princípio do
prazer e
do princípio de realidade. Ela é referida fundamentalmente ao caráter
mais geral das pulsões:
a sua
característica conservadora(Laplanche, J.; Pontalis, J.-B. Vocalbulário da Psicanálise; Ed. Moraes, Lisboa,
1976).
Não é um fenômeno
observável apenas em situações patológicas. Observa-se este comportamento repetitivo
também nas brincadeiras infantis que servem
para dominar a experiência de perda e outras experiências
traumáticas
vividas passivamente.
Clínica
Fenômenos repetitivos
estão presentes na vida em geral. Parece que é um fenômeno transmitido
pelo código
genético e, nos humanos, representa uma parte importante e
fundamental de todo o funcionamento biológico,
tanto orgânico quanto
psicológico. Através da evolução adquirimos um órgão de adaptação (o
ego) que permite,
dentro de certos parâmetros, evitar os padrões
repetitivos. Quando as funções egóicas que garantem a autonomia
em relação ao
ambiente e aos impulsos instintuais não é bem desenvolvida ou se torna
comprometida pela doença
(neurose, estados pós-traumáticos e psicoses),
o comportamento individual se torna menos flexível e aumenta a
repetição
estereotipada de padrões passados. Nesse sentido, mais importante do que
saber por que repetimos é
saber o que nos faz não repetir.
Trata-se, portanto, de
um dos pilares do funcionamento mental, constituinte básico da
dinâmica
mental. Nas
palavras de Freud: “O que
permaneceu incompreendido retorna; como uma alma penada, não tem repouso
até
encontrar resolução e libertação” (Análise de uma fobia de um menino de 5
anos; in Edição Standard da Obra
Psicológica Completa de Sigmund Freud., vol.
X; Ed. Imago, R.J.).
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