Luto patológico
 

Definição
Estado mental associado à perda de pessoas significativas e decorrente da interrupção do processo normal do luto, cronificando a sensação de perda e de todos os seus acompanhamentos.  

Psicodinâmica
a) do luto
O luto é a reação experimentada frente à morte ou perda de um ser amado ou de uma abstração equivalente (a pátria, a liberdade, um ideal etc.). Também podem ocorrer manifestações de luto em outros tipos de perdas de menor magnitude, como por exemplo em separações familiares, conjugais, de amigos; perda de um objeto de estimação ou de algum tipo de lembrança de valor emocional; mudar-se de casa; mudar-se de país.
O luto é um processo mental destinado à instalação de uma perda significativa na mente. A parte perceptível deste processo se caracteriza, inicialmente, pela repetida rememoração da perda sempre acompanhada do sentimento de tristeza e de choro, após o que a pessoa acaba se consolando. Com a evolução do processo, passam a ser rememoradas outras cenas, agradáveis e desagradáveis, nem sempre seguidas de tristeza e choro, mas sempre com a consolação final. É um processo de duração variável, porém sempre lento, longo e acompanhado de graus variáveis de falta de interesse pelo mundo exterior, tristeza e seus corolários, que vão diminuindo conforme o processo avança. O processo vai gradualmente se extingüindo com desaparecimento da tristeza e do choro, instalação da consolação e volta do interesse pelo mundo exterior. No final, com a quebra definitiva da ligação afetiva, a pessoa perdida passa a ser apenas uma lembrança; o sentimento de tristeza desaparece e a vida afetiva retoma seu curso voltando a ser possível novas ligações afetivas.

do luto patológico
Por incapacidade de integrar a perda (e suas conseqüências transformadoras) ao mundo mental, o processo normal do luto é interrompido através da identificação do enlutado com a pessoa morta. Existem várias formas e gradações de apresentação clínica desta situação psicodinâmica, todas relacionadas com a depressão e tendo na melancolia a forma extrema.
Três linhas de compreensão desta incapacidade de elaborar uma perda significativa:
a) Freud foi o primeiro a apontar o papel da identificação do enlutado com o morto como “solução” para esta impossibilidade. Ele atribuiu à raiva (hostilidade) para com a pessoa perdida um papel central na transformação do luto normal em patológico.
b) Melanie Klein foi a primeira a estabelecer a ligação entre os processos de luto havidos na primeira infância com a ocorrência de luto patológico em adultos. Acentuando o papel das relações objetais no primeiro ano de vida, e sempre na ótica da hostilidade presente nelas, atribuiu às experiências de perdas ocorridas nesta época e aos processos psicológicos que elas desencadeiam (culpa e perseguição) um importante papel etiológico no luto patológico.
c) John Bowlby deu continuidade ao estudo iniciado por M. Klein em relação à ligação entre experiências infantis de luto e o desencadeamento de luto patológico em adultos e suas expressões psiquiátricas. Mas, por não ter encontrado evidências de que a agressão seja expressão de uma pulsão de morte e que o período de vulnerabilidade às experiências de perda esteja restrito ao primeiro ano de vida, Bowlby discordou quanto ao papel dado por Klein tanto à hostilidade quanto ao período de grande vulnerabilidade às experiências de luto na infância. A partir de sua observação clínica constatou que a perda de uma pessoa amada sempre desencadeia um forte desejo de reunião, um sentimento de raiva (de intensidade variável) pela partida e, no final, a um certo grau de desapego. Este tipo de perda, para este autor, sempre dá origem não só à ansiedade de separação e ao pesar, como também a processos de luto nos quais a agressão tem a função de reunião. Considera que o luto patológico decorre apenas da interferência de processos defensivos que acabam desviando o processo normal de luto, não vendo diferenças qualitativas entre os processos normal e patológico do luto.

retorna