Definições
Nas
palavras de Abram Eksterman, “a Psicologia Médica é um capítulo novo na
história da Medicina. Pretende estudar a psicologia do estudante, do
médico, do paciente, da relação entre estes, da família e do próprio
contexto institucional destas relações. [...] Outro elemento a ser
considerado é que o ensino de Psicologia Médica engloba o ensino do que
se convencionou chamar de Medicina Psicossomática.” (“Ensino de
Psicologia Médica, in Psicossomática Hoje, Editora Artes Médicas,
P. Alegre, 1992).
Histórico
A
concepção psicossomática sobre o adoecer é muito antiga, mas foi apenas
no século passado, com o trabalho dos primeiros psicanalistas no
hospitais gerais, é que este conhecimento começou a ser sistematizado.
No Brasil, o início do movimento psicossomático se deu, principalmente,
nas cidades de São Paulo e do Rio de Janeiro na década de 50 do século
passado com José Fernandes Pontes e Helladio Francisco Capisano em S.P.
e Danilo Perestrello no R.J. Introduzido no Rio de Janeiro por Danilo
Perestrello, que fundou em 1958 a “Divisão de Medicina Psicossomática”
no Serviço de Clínica Médica do Hospital Geral da Santa Casa de
Misericórdia do Rio de Janeiro dirigido pelo prof. Clementino Fraga
Filho, logo acompanhado por Abram Eksterman, que em 1962 fundou o “Setor
de Medicina Psicossomática” no Serviço de Clínica Médica do Prof. Cruz
Lima, também no Hospital Geral da Santa Casa de Misericórdia do Rio de
Janeiro. Em 1965, Perestrello e Eksterman se unem e formam o Centro de
Medicina Psicossomática e Psicologia Médica do Hospital geral da Santa
Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro (Mello Filho e cols
Psicossomática hoje, caps. 1 e 2, Ed. Artes Médicas, P.A., 1992).
Existem 3 vertentes
teóricas comuns a toda concepção psicossomática: a psicogênica, a
Psicologia Médica e a Antropologia Médica. Braço clínico da concepção
psicossomática original, A Psicologia Médica tem seu campo de ação no
espaço intermediário da assistência médica.
Objetivos
Otimização dos procedimentos clínicos e prevenção da iatropatogenia, que é a ocorrência de alterações mórbidas
decorrentes da própria ação terapêutica. Ainda segundo Eksterman, ela
costuma ocorrer numa das seguintes situações: ignorância profissional,
conflito institucional e impregnação irracional do campo assistencial.
“O Objetivo final é a Medicina da
Pessoa, ou seja, o atendimento ao ser humano, enfermo em função de sua
biografia e do mundo ao qual se adapta. O foco da intervenção
psicológica é a irracionalidade aberta pela crise biológica no paciente,
na equipe e na família. Para tal utiliza-se da
psicodinâmica das
expressões corporais, das relações assistenciais e das relações sociais
relacionadas ao campo terapêutico”. (Eksterman, A. “O Ensino de
Psicologia Médica” in Psicossomática ano I, nº I, vol.
jan/março/86; OEDIP, org. Editorial Psicosomática, Recife)
Metodologia
Conforme foi desenvolvido por Abram Eksterman, o
método utilizado é a “História da Pessoa”, que é constituída pela:
-
biografia do doente (como ele conta), pois os dados biográficos tornam o
doente uma pessoa para o médico e não apenas uma patologia. A vantagem é
individualização do caso clínico, com a conseqüente adaptação das
medidas terapêuticas específicas para aquele doente;
-
circunstâncias do adoecer, posto que o conhecimento das circunstâncias
de vida nas quais sobreveio a enfermidade possibilita evitar
revivescências das mesmas circunstâncias morbígenas no relacionamento
clínico;
-
compreensão da relação médico-paciente possibilita a organização de uma
estratégia assistencial, isto é, uma terapêutica individualizada. A
relação médico-paciente pode ser fonte de graves iatrogenias, algumas
das quais induzidas pelo paciente, sem que o médico disso se aperceba. A
compreensão da relação médico-paciente também permite uma aliança
criteriosa e harmoniosa com o doente.
Delimitação conceitual
A
Psicanálise produziu no campo médico um método terapêutico para as
neuroses;
um método de investigação da personalidade cujos resultados permitiram
aumentar consideravelmente a eficácia dos tratamentos psicológicos das
caracteropatias, das psicoses e dos distúrbios emocionais da infância;
uma psicologia em função do inconsciente, cujo modelo teórico
possibilitou interpretar sintomas orgânicos dentro de uma hermenêutica
análoga a adotada para os fenômenos conversivos; o estudo das
relações
de objeto, cujo modelo transferencial-contratransferencial
tem
esclarecido algums enigmas da interação emocional médico-paciente.
A
estruturação desses conhecimentos com a ciência médica abriu caminho
para o desenvolvimento da Medicina Psicossomática, não apenas como
posição ético-filosófica, mas sobretudo como atitude clínica derivada de
uma compreensão holista do homem doente, holismo patrocinado pelos
estudos psicanalíticos do fenômeno inconsciente. Com efeito, os
resultados da pesquisa do inconsciente, de seus fatos e de suas leis,
têm preenchido pouco a pouco o abismo epistemológico que separava o
somático do mental.
A
Medicina Psicossomática teve o mérito de levantar hipóteses de grande
alcance clínico, sobretudo para a profilaxia. É possível que os novos
modelos psicológicos adotados na relação entre pais e filhos e na
pedagogia institucional diminuam consideravelmente a incidência de
algumas patologias chamadas funcionais, sobre as quais, aliás, erigiu-se
o edifício psicossomático. Mas, vista como especialidade e não como
atitude clínica, ela conduz a maiores dissociações do campo mental e
somático da patologia, e nos afasta do atendimento integral à pessoa do
doente.
Na
atualidade a orientação psicossomática da Medicina está concentrada para
desenvolver a prática da medicina integral. Essa prática se impõe na
medida em que novos horizontes médicos se abriram, expandindo-se por um
lado para a intimidade psicológica, na gênese da personalidade; por
outro, na relação do homem com o mundo, nas suas matrizes sociais. O
trabalho argentino do Grupo de Estudos e Perspectivas Médicas liderado
por I. L. Luchina e o de Danilo Perestrello no Brasil, ambos antecipados
por Michael Balint na Inglaterra, foram pioneiros neste campo
Psicanálise, Medicina Psicossomática e Psicologia Médica
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