Definições
É a
sensopercepção que permite a aquisição dos elementos do conhecimento
procedente do mundo exterior e do mundo interior, orgânico e psíquico.
Ela requer a participação dos cinco sentidos externos (olfato, tato,
visão, audição e paladar), dos sentidos internos (cenestésico, cinético
e de orientação) e a percepção do mundo mental pela consciência.
Sensação é o elemento primário da senso-percepção. É o registro, na
consciência, da estimulação produzida em qualquer dos aparelhos
sensoriais. Elas podem ser externas (refletem propriedades e aspectos
isolados das coisas e fenômenos que se encontram no mundo exterior) e
internas (refletem os movimentos de partes isoladas do nosso corpo e o
estado dos órgãos internos). As sensações internas são de 3 tipos:
motoras ou cinéticas (nos orientam sobre os movimentos dos membros e do
nosso corpo), de equilíbrio (provém da parte interna do ouvido e indicam
a posição do corpo e da cabeça) e orgânicas ou proprioceptivas (se
originam nos órgãos internos). Cenestesia é o conjunto de sensações,
muito vagas e indiferenciadas, que nos dá o sentimento de bem-estar.
Imagem é a representação mental de um objeto registrado e percebido
através de um dos mecanismos senso-perceptivos.
Imagens sensoperceptivas normais
-
imagem sensorial ou perceptiva: é aquela obtida pela observação direto
do objeto. Suas características são: nitidez, corporiedade, projeção
para o exterior, fixidez e não ser influenciada pela vontade;
-
imagem consecutiva: é a persistência da imagem sensorial depois do
desaparecimento do estímulo, quando este é muito intenso. Ela perde
rapidamente a ntidez, a corporiedade e a projeção passa para o espaço
subjetivo, sendo que a vontade pode reavivá-la e/ou transformá-la;
-
imagem mnemônica: é a imagem da recordação evocada pela memória. É muito
instável e influenciada pela vontade, além de ser pouco nítida e sem
corporiedade;
-
imagem fantástica ou confabulatória: é produto da imaginação. Ela
ocorre sem objeto, é sem nitidez, sem corporiedade e muito influenciada
pela vontade;
-
imagem onírica: forma o conteúdo dos sonhos. É de origem menmônica ou
imaginativa;
-
imagem pareidólica: criada pela imaginação e originada a partir de
imagens reais (ex.: nuvens, manchas etc.).
De
acordo com a Psicologia da Forma (Gestalt), o ato perceptivo consiste na
apreensão de um totalidade, de natureza específica, cuja organização, do
ponto de vista funcional, não representa a simples adição de elementos
locais e temporais captados pelos órgãos dos sentidos. Percepção
corresponde ao ato pelo qual tomamos conhecimento de um objeto do meio
exterior considerado como real, isto é, como existente fora da própria
atividade perceptiva. Leva à apreensão de uma situação baseada em
sensações, acompanhada de representações e freqüentemente de juízos, num
ato único, o qual só pode ser decomposto por meio de análise.
Psicopatologia da sensopercepção
1-
Variações normais
Diminuição da sensibilidade pela fadiga da atenção
Percepção mais ativa e mais clara por treinamento específico
Maior
claridade perceptiva por maior interesse e maior concentração da atenção
2-
Alterações quantitativas das sensações
Hiperestesia: é o aumento da intensidade das sensações;
Hipoestesia: é a diminuição da sensibilidade aos estímulos sensoriais;
Anestesia: é a abolição de todas as formas de sensibilidade;
Analgesia: perda da sensibilidade à dor, com a conservação das outras
formas de sensibilidade;
Agnosia ou falta de conhecimento: por lesão (periférica ou central) dos
aparelhos perceptivos.
3-
Alterações qualitativas da sensopercepção
Ilusões: é a percepção falseada ou deformada de um objeto real, cujas
causas são: debilitação da atenção ou exaltação emocional (ilusão
catatímica);
Aberrações perceptivas: consiste no fato de se emprestar cores
inusitadas aos objetos exteriores, comumente causadas por drogas;
Alucinações: é produto de um juízo alterado, o qual cria uma viva
representação originada numa imagem de recordo ou da fantasia,
a qual é
projetada no exterior e aceita como real, como um produto de uma
captação sensorial. Seus mecanismos podem ser: psicológicos ou
neurológicos. Seguindo F. Alonso-Fernandes (Fundamentos de la
Psiquiatria Actual, 2ª edição; Editorial Paz Montalvo, Madrid, 1972),
são três os tipos de vivências alucinatórias: as alucinações
verdadeiras, as alucinoses e as pseudoalucinações.
Alucinações verdadeiras:
-
alucinação sensorial: auditivas, visuais, táteis, olfativas, gustativas;
-
alucinação cenestésica: se referem aos sentidos internos;
-
alucinação cinética: relacionadas a movimentos do próprio corpo;
-
alucinação psíquica: é uma intensa representação sem exteriorização e
sem consciência de
que é produzida na mente. São pensamentos e palavras
que se impõem como ordens;
-
alucinação verbomotora: sensação de que outras pessoas falam por
intermédio da própria pessoa;
-
alucinação hipnagógica: na passagem vigilia-sono, quando há diminuição
da lucidez de
consciência;
-
alucinação extra-campina: são alucinações visuais que ocorrem foram do
campo visual da própria pessoa;
- eco
ou sonorização do pensamento: é a sensação de ouvir os próprios
pensamentos;
-
alucinação auditiva de observação dos próprios atos: é a sensação de
ouvir observações acerca
dos atos que a pessoa está realizando;
-
percepção delirante: é a interpretação delirante de uma percepção real.
Alucinoses ou alucinações neurológicas:
-
alucinose alcoólica: é o estado alucinatório agudo que ocorre nas
intoxicações alcoólicas, que
se acompanha de muita
ansiedade, mas não
desperta nenhuma interpretação delirante,
pois há consciência de que é
produzido por uma perturbação determinada;
-
alucinose peduncular: é o estado alucinatório de natureza oniróide,
caracterizado pelo desfile de
alucinações visuais como um filme
cinematográfico, não acompanhado de ansiedade e nem de interpretações
delirantes. Ocorre nas lesões do pedúnculo cerebral.
Pseudo-alucinação: existe consciência de sua formação intra-psíquica e
só secundariamente é
projetada e referida ao campo senso-perceptivo. São
influenciadas pela vontade e pelo conteúdo do
pensamento
Clínica
As
alucinações são mais frequentes na
esquizofrenia. Nesta, as alucinações
cenestésicas são as mais comuns, seguidas das alucinações auditivas. A
alucinação auditiva de observação dos próprios atos, a sonorização do
próprio pensamento e o roubo do pensamento são características da esquizofrenia.
Nas
doenças afetivas, são mais freqüentes as ilusões.
Nas
Epilepsias predominam as visuais, auditivas e cenestésicas, mas também
podem ocorrer estados alucinatórios paroxísticos.
Na
embriaguez patológica predominam as alucinações visuais e táteis, e na
alucinose alcoólica surgem vozes na terceira pessoa, sempre de conteúdo
desagradável.
Nos
delírios febris (“delirium”) predominam as visões com imagens oníricas
multiformes, de tonalidade afetivas variável. Quanto maior o ofuscamento
da consciência, mais comuns são os fenômenos visuais.
|