Uma mulher de quase setenta anos, separada e já com bisnetos, foi internada após
mais um acidente vascular cerebral transitório.
Foi solicitado atendimento
da Psicologia Médica
para avaliação do componente psicogênico na evolução da doença.
Segundo seu próprio relato, a paciente vem apresentando pequenos episódios transitórios
de isquemia cerebral há quase vinte anos e sempre com remissão total da sintomatologia,
caracterizada por cefaleia e paralisias no dimídio direito. Esses episódios costumam
ser precedidos de crises hipertensivas ou de episódios de arritmia cardíaca, para ela sempre relacionados com alguma circunstância da própria vida: um
episódio de violência conjugal, a morte do pai, agressão a estudantes perto da sua
residência etc. Alegando diferentes problemas, paciente não faz nenhum acompanhamento
ambulatorial de forma regular.
A relação da paciente com a equipe da enfermaria foi sempre difícil: estava sempre
se queixando, sempre discordando e sempre pouco disposta a cooperar com os exames
e procedimentos clínicos. A paciente recebeu alta após algumas semanas de internação
e alegando preferir seguir o acompanhamento ambulatorial, clínico e psicológico,
perto de sua residência, recusou-se a fazê-lo em nosso hospital.
A partir do reconhecimento que a capa narcísica defensiva da paciente a tornava
praticamente inabordável além de
induzir a rejeição do ambiente, familiar e assistencial,
discutiu-se o papel dos
vínculos afetivos básicos na organização mental e o papel da doença
na alostase pessoal e/ou grupal (familiar).
|