Um homem de pouco mais de quarenta anos, casado e com filhos, foi internado devido
ao reaparecimento de crises convulsivas. O paciente relatou que faz uso de barbitúricos
desde a puberdade, quando suas crises convulsivas começaram. Pessoa de origem humilde,
criado longe dos pais, com uma história de privação, afetiva e alimentar, e maus
tratos, que incluíam violência física e abuso sexual, o paciente conseguiu sobreviver
a tudo isso, formar uma família e sustentá-la com muito esforço por ter sido impedido
de estudar. Ao ser internado,
estava abatido com o distanciamento dos filhos, devido
a brigas por ele provocadas, e também pelo retorno das crises convulsivas. Além
disso, estava
ansioso devido ao receio de estar com alguma doença fatal,
apesar de saber ser epiléptico. O estado de ânimo do paciente melhorou após poucas
consultas, que também foram suficientes para ajudá-lo a restabelecer o contato com
os filhos.
A discussão foi iniciada com a pergunta sobre o que se pode fazer com esse paciente,
que é portador de uma doença orgânica crônica acrescida de lesões psicológicas profundas
oriundas da perversão dos
vínculos básicos. Três pontos foram ressaltados:
o estabelecimento de uma relação terapêutica baseada no interesse genuíno no paciente,
que estabelece um
vínculo diádico com efeitos terapêuticos, a necessidade
de reorganizar uma terapêutica anti-epiléptica eficaz e a abertura de um espaço
de interlocução para a
elaboração do comportamento agressivo
que o paciente
tem com os filhos, que pode ser tanto motivado pela irritabilidade que acompanha
a epilepsia quanto por identificações patológicas com os familiares violentos
e abusivos, e que gera a culpa, o retraimento afetivo e o estado depressivo que paciente apresentava ao ser internado.
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