Um homem de quase oitenta anos, viúvo e com filhos, foi levado ao hospital por um
dos filhos para diagnóstico e tratamento de um quadro clínico formado por emagrecimento+sensação
de plenitude gástrica após ingestão de pequena quantidade de alimento+anemia+edema
de membros inferiorres+dispnéia aos pequenos esforços. Viúvo há mais de 10 anos,
perdeu a esposa repentinamente em um acidente automobilístico, episódio relacionado pelo paciente ao surgimento de seus problemas orgânicos. Vivendo sózinho em sua casa,
já quase não conseguia se alimentar e andar pela casa em virtude da sintomatologia
gástrica e cardíaca.
Exames realizados anteriormente e trazidos pelo próprio revelaram
a existência de um
adenocarcinoma
gástrico
e uma insuficiência em uma das
válvulas cardíacas,
nunca mencionados pelo paciente. Os exames realizados durante
a internação confirmaram os anteriores e revelaram também a existência de
metástases
abdominais. Em suas consultas com o membro da equipe de Psicologia Médica associada
à enfermaria o paciente revelou seus planos de voltar à sua terra natal e de visitar
os filhos que moram em outros estados. Os resultados dos exames foram comunicados
ao paciente e familiares na véspera da alta hospitalar.
O tema que iniciou a discussão do caso clínico foi a comunicação
do diagnóstico: quanto dizer, como dizer e quando dizer ao paciente sobre seu diagnóstico
foram os ítens inicialmente discutidos. Discutiu-se ainda o quanto o paciente já
tinha ciência da gravidade da própria doença e, nesse sentido, os planos do paciente
visitar a terra natal e os filhos foram entendidos como despedidas, falando a favor
da existência de consciência da própria doença. Em seguida, entrando na psicodinâmica
do paciente, foi constatado que o processo de
luto da esposa ainda
não havia se completado indicando a necessidade de se abrir espaço para a elaboração do episódio
traumático da vida do paciente. Finalmente, abordou-se
a possível relação entre perdas não elaboradas e o surgimento de câncer.
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