Um homem de mais de 30 anos, solteiro e ainda vivendo
com a mãe, foi por ela levado ao ambulatório de Psicologia Médica com um encaminhamento,
redigido pelo médico dela, com o diagnóstico de depressão. Ao contrário do que este
diagnóstico faria esperar, o paciente mostrou-se bem falante, um pouco mais do que
se esperaria em uma entrevista inicial, desinibido e com uma postura ligeiramente
altiva, superior. Disse que seu único problema era ainda não saber que rumo tomar
na vida e citou várias faculdades que teria vontade de cursar. Além disso, queixou-se
da forte influência materna e da ausência paterna em sua vida. Desde logo mostrou
não ver nenhuma necessidade de um acompanhamento psicológico, só tendo comparecido
à consulta, marcada pela mãe, por imposição desta. Não demonstrou nenhuma disponibilidade
para se tratar e não deu continuidade ao tratamento.
A discussão se iniciou pelo
diagnóstico, tendo sido afastado imediatamente
o de depressão. Do ponto de vista descritivo-fenomenológico, trata-se de um paciente
borderline com
defesas maníacas e, do ponto de vista psicodinâmico,
trata-se de um caso de hipodesenvolvimento egóico
decorrente de patologia no estabelecimento dos
vínculos básicos, que gerou um derrotado social. Em seguida, discutiu-se
o impasse psicossomático do paciente: se ele melhora, entra em
estresse, e, se permanece passivo diante da vida, a pressão do ambiente
(personificada na mãe) aumenta, gerando mais estresse. Finalmente, foram discutidas
diferentes estratégias clínicas para o tratamento deste paciente, tendo sido sugerido
que dever-se-ia começar pelo tratamento ou, no mínimo, a orientação psicológica
da mãe do paciente.
|