Uma senhora, com mais de sessenta anos, casada, com filhos
e netos, portadora de alopécia areata
há 10 anos, foi encaminhada à Psicologia Médica após vários tratamentos dermatológicos
infrutíferos. Na primeira consulta, a paciente mostrou-se bastante contrariada com
o encaminhamento e com dificuldade em entender a necessidade de um tratamento psicológico.
Inicialmente, negou qualquer tipo de situação
difícil em sua vida e não relacionou o surgimento de sua doença com nenhuma circunstância
difícil, mas com a continuidade da entrevista revelou que o início da sintomatologia
ocorreu em torno do aniversário de um de seus netos, no qual se viu tomada por lembranças
de sua filha caçula, falecida ainda púbere em um acidente automobilístico. Disse
não ter se recuperado dessa perda e até hoje culpa o marido pelo acidente, apesar
de saber que ele não foi o responsável.
A partir da formulação do
diagnóstico de luto patológico, a
discussão girou em torno da relação entre o estresse
crônico e a dificuldade de elaboração
de experiências traumáticas. Finalmente, foi
levantada a hipótese de que a contrariedade da paciente com o tratamento psicológico
estar relacionada com o sentimento inconsciente
de culpa, projetado no marido. Tal sentimento
pode ter engendrado uma situação conflitiva, que é geradora de estresse, entre o
desejo de fazer o luto da filha e a necessidade culposa manter-se presa a ela, isto
é, um conflito inconsciente entre separar-se da filha morta ou mantê-la morta dentro
dela.
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