Resumo da Reunião Clínica
 

Uma mulher de pouco mais de 40 anos, única filha de pai alcoólatra entre 4 irmãos, casada e mãe de 1 filho, foi encaminhada para tratamento ambulatorial por apresentar episódios de perda da memória durante os quais não sabe o que fala e o que faz. Esses episódios se iniciaram com um desmaio, seguido de 8 dias sem memória, na ocasião do seu casamento com seu atual marido, há mais ou menos 5 anos. Ao recuperar-se, o marido lhe disse que durante esse período ela revelou o fato de ter sido abusada sexualmente na infância por seu pai, o que nunca havia feito antes. Os abusos se encerraram quando o pai se converteu a uma determinada religião. Coincidentemente, a paciente também acabou se convertendo a essa religião a pedido do filho quando este sofreu um grave acidente. Desde então a paciente dedica-se ao trabalho de divulgar a religião e foi em uma das viagens de proselitismo que conheceu seu atual marido, também dessa religião. A paciente encontra-se em tratamento há pouco mais de 2 meses e apresentou 2 desses episódios de desmaio seguido de “perda de memória”. Durante as consultas a paciente deu sinais de se sentir oprimida pela religião e culpada pelo que lhe aconteceu na infância.

O primeiro ponto abordado na discussão do caso clínico foi o diagnóstico diferencial entre estado crepuscular e histeria. A partir das evidências clínicas de trauma sexual precoce apresentadas pela paciente (erotização excessiva desde a adolescência, erotismo fixado no tipo de ato sexual que ela era levada a praticar com o pai e a auto-estigmatização) e na ausência de sinais clínicos de comicialidade, firmou-se o diagnóstico de histeria. Em seguida, a discussão encaminhou-se para a condução do processo psicoterápico: se o tratamento deveria buscar possíveis motivações inconscientes (desejos inconscientes) da paciente que a teriam levado a não opor nenhuma resistência ao trauma repetido, base do sentimento de culpa expresso nas sessões, ou se o tratamento deveria ser iniciado pela elaboração da experiência traumática, aliviando o sentimento de culpa da paciente.