Um homem de quase 60 anos,
solteiro, sem família e aposentado, foi internado para investigação de intensa cefaléia
frontal, de início repentino e recente. O atendimento da
Psicologia Médica foi solicitado
porque o paciente estava muito retraído na enfermaria.
Nascido em cidade pequena
de área rural, perdeu o pai por volta dos 2 e a mãe aos 4 anos. Não teve nenhum
interesse pelos estudos, tendo cursado apenas o primário; até os 16 anos viveu com
uma avó cuidando de gado. Veio para o Rio após o falecimento desta avó e aqui uma
tia, freira, arranjou-lhe um emprego em uma instituição onde trabalhou e morou a
vida toda. Durante os exames foi constatado um importante sangramento frontal e
presença de metástases
cerebrais. O paciente veio a falecer dias depois.
Inicialmente, discutiu-se
a conjugação de limitações afetivas precoces com desenvolvimento intelectual
precário e ausência de ambições existenciais, resultando em uma boa adaptação a
uma vida institucionalizada.
Os
elementos contratransferenciais decorrentes do impacto emocional sofrido pela terapeuta ao atender o paciente
com essas características foram objeto de debate no final da reunião.
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