Resumo da Reunião Clínica
 

Uma mulher de quase 50 anos, casada em segundas núpcias, mãe de 2 filhos e avó de 10 netos, foi internada para investigação de síndrome coronariana por apresentar dor pré-cordial (angina) com piora nos últimos 30 dias. A paciente teve apenas 1 atendimento da Psicologia Médica, solicitado pela enfermagem e motivado pela impressão de que ela estava muito assustada com o agravamento do quadro da sua colega de quarto. A paciente recebeu o membro da equipe de Psicologia Médica associada à enfermaria com certa desconfiança e disse ter hoje uma vida muito boa. Quando foi questionada sobre como a sua vida era antes, disse ter perdido 2 filhos num espaço de 2 anos, o que causou forte impacto na psicóloga. Estimulada a falar sobre essas perdas, a paciente contou que o caçula morreu atropelado quando jogava bola e o outro, em um assalto de ônibus ao recusar entregar seu par de tênis novo. A paciente recebeu alta antes do segundo atendimento psicológico.

Partindo do diagnóstico psicodinâmico de luto patológico reativado pela ameaça de perder a própria vida, discutiu-se a necessidade de se estabelecer o foco para o atendimento psicológico. Foi ressaltada a importância de 2 elementos para a construção desse foco: a cena mental do paciente, que é revelada ao terapeuta através do discurso do paciente, não necessariamente a partir do assunto que é falado, e sim do tema que é levantado pelo mesmo, e a contra-transferência, que possibilita a percepção dos sentimentos e desejos reprimidos do paciente que são defensivamente projetados no terapeuta.