Resumo da Reunião Clínica
 

Um paciente de pouco mais de trinta anos, filho único, de aparência juvenil, solteiro, desempregado e ainda vivendo com os pais, foi reinternado para nova cirurgia de retirada de um tumor cerebral benigno, de consistência cística e localizado na região occipital. Em sua primeira internação, há dois anos, referiu a mesma sintomatologia: cefaléia e diminuição da acuidade visual. Habituada com a reincidência deste tipo de tumor, a equipe estranhou a piora acentuada da visão, não encontrando nenhuma justificativa clínica para a não melhora da dificuldade visual do paciente, que relatou uma acentuada piora neste aspecto, referindo estar completamente cego no momento.
Além da aparência juvenil, tinha uma postura sedutora e a maneira de falar, de pensar e de conduzir sua vida eram condizentes com a de um jovem: vivendo ainda à custa dos pais, e emocionalmente dependente deles, ainda indefinido profissionalmente, em luta com as figuras de autoridade e as instituições, e infantil em suas críticas, radicais e generalizadas. Por outro lado, tinha uma vida imaginativa muito rica, na qual sentia-se um lutador poderoso, defensor dos fracos, da ética e da moral, sempre encontrando justificativas para a sua inação. O único dado biográfico relevante não foi informado pelo paciente e sim pelo pai: poucos meses antes do início da sintomatologia foi contaminado com sífilis por uma ex-namorada. Poucos dias antes de ser operado criou uma situação difícil na enfermaria ao se mostrar sedutor e se insinuar para uma enfermeira. O paciente foi operado com sucesso e saiu de alta devidamente orientado a dar continuidade ao tratamento clínico e psicológico em regime ambulatorial.

A partir dos elementos psicodinâmicos de natureza histriônica apresentados pelo paciente (postura sedutora, por vezes feminina, denotando uma indefinição na identidade de gênero, comportamento regredido e inibido em sua ação, intensa vida de fantasia, de natureza compensatória, na qual a sexualidade estava denegrida, associada à violência e culposa), discutiu-se a possibilidade dele ser portador de amaurose histérica, e a importância da elucidação dessa hipótese diagnóstica junto à equipe médica, que sem encontrar justificativas clínicas para a cegueira referida pelo paciente, estava para operá-lo de um tumor cerebral com a possibilidade de estar sendo inconscientemente induzida por ele a realizar uma cirurgia mais extensa do que o necessário por conta da queixa de dificuldades visuais crescentes. Finalmente, abordou-se o uso psicoterapêutico das informações obtidas de outras pessoas que não o paciente.

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