Resumo da Reunião Clínica |
Uma moça de menos de dezoito anos, noiva e ainda estudante, foi internada com um quadro de perda da acuidade visual, perda dos movimentos dos membros inferiores, incapacidade de esvaziar a bexiga, fala lentificada e cansaço, com início há cinco meses. Dias depois da internação, sua mãe foi comunicada do diagnóstico: esclerose múltipla, doença degenerativa crônica de prognóstico reservado. Órfã de pai desde seu primeiro ano de vida, a paciente vive com a mãe, descrita como pessoa forte, determinada e evangélica, e um irmão, descrito como tendo sido nervoso até ter aceitado Jesus. Ela também se acha uma pessoa nervosa e, às vezes, chata e impaciente, por isso está sempre pedindo ajuda a Jesus. O pai, pessoa difícil, alcoólatra, morreu de câncer intestinal logo depois de ter entrado para a igreja da esposa. Baseada em sua fé, a paciente tem se revelado bastante otimista em relação a sua total recuperação. Em contrapartida, os familiares e a equipe da enfermaria estão abatidos com a situação da paciente, que ainda não foi informada sobre o seu diagnóstico e a evolução da doença.
A discussão girou em torno das dificuldades em ajudar uma paciente que vai ser progressivamente
lesada até morrer, em uma evolução que pode ser bem longa. O tratamento deste tipo
de paciente envolve dois riscos: a) o terapeuta desistir da paciente; b) a paciente
desistir do tratamento e da vida. O primeiro risco é evitado pelo uso adequado da
contratransferência e o segundo, é diminuído se o terapeuta não se deixar
contaminar pelo conhecimento da evolução da doença, permanecendo no aqui e agora
da paciente.
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