Resumo da Reunião Clínica
 

Um homem de quase quarenta anos, nordestino, casado, pai de duas filhas e três enteadas, foi internado para se submeter a uma cirurgia reparadora de uma hérnia de disco. Chegou ao hospital curvado, quase sem conseguir andar e com muitas dores, depois de vagar por vários hospitais. Perdeu o pai aos três anos e foi criado por uma avó porque a mãe veio para o RJ em busca de trabalho. Trazido pela mãe aos oito anos, veio com uma irmã morar com ela, que na época já havia se casado novamente. Não conseguiu se readaptar ao convívio materno, pois achava que a mãe não era carinhosa com ele, só com a irmã e com os irmãos do segundo casamento. Também não conseguiu se entender com o padrasto e após muitas brigas, saiu de casa sem se despedir de ninguém passando alguns meses vagando pelas ruas depois de escutar a mãe, pressionada pelo padrasto, escolher continuar vivendo com este e não com ele. Nessa época usou várias drogas e acabou sendo recolhido por um casal conhecido da família com quem acabou vivendo, e bem, até se casar pouco depois dos vinte anos. Suas dores começaram há quatro anos quando precisou voltar a trabalhar em construção depois de perder o emprego que tinha como motorista. Pessoa bastante emotiva, sempre chorava ao falar da mãe e do quanto era impossível voltar a se entender com ela, pois algo nele havia mudado desde a época em que saiu de casa e a mãe não foi atrás dele. Só depois de ter sido operado é que revelou que estava com muito medo de morrer na cirurgia e que os atendimentos o ajudaram muito a sentir-se mais confiante.

Em primeiro lugar, foi ressaltado que, apesar de todas as dificuldades vividas, o paciente não se perdeu na vida, nem com as drogas e nem para o crime. Além disso, demonstrou ter uma sensibilidade aguçada para as questões pessoais e uma ótima capacidade de insight e de lidar com as coisas da vida. Em seguida, as características psicodinâmicas do paciente foram dissecadas: o conflito edípico que tornou a convívio na casa do padrasto impossível, a culpa inconsciente daí decorrente e a possibilidade do medo de morrer na cirurgia ser também a expressão do desejo de aí morrer como última tentativa de culpar a mãe por ela não ter escolhido a ele em detrimento do marido.

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