Resumo da Reunião Clínica |
Uma mulher de pouco mais de cinquenta anos, obesa, casada, mãe de três filhos, vem
sendo acompanhada, atualmente de modo intermitente, pela
Psicologia Médica há cinco
anos, desde quando se internou para se submeter a uma
tireoidectomia parcial
por apresentar um quadro de
hipotireoidismo devido à presença de um bócio
multinodular na glândula tireóide. Na época, levou três semanas para conseguir
se operar, pois sua cirurgia foi algumas vezes postergada devido a
episódios hipertensivos. Neste período relatou que além do bócio e da hipertensão, também lutava
para controlar sua glicemia, o colesterol e os triglicerídeos. Contou que aquela
não era sua primeira cirurgia e nem sua primeira internação: retirou o útero quinze
anos antes por conta de um câncer e foi internada com uma crise nervosa quando o
pai morreu. Muito cedo fugiu de casa com um namorado e afastou-se completamente
da família por causa dos maus tratos maternos. Sua mãe bebia e descuidava quase
que completamente dos filhos, além de infringir muitos maus-tratos. Mulher determinada,
de fala firme e decidida, que expressava sua raiva e
agressividade com muita
naturalidade, a paciente sentia-se infeliz no casamento devido às inúmeras brigas
e desentendimentos que acabaram por levar a morarem em casas separadas. A cirurgia
foi realizada com sucesso e a própria paciente solicitou a continuação do seu acompanhamento
psicológico, o que foi feito ininterruptamente por dois anos. Neste período a paciente
conseguiu mudar de postura em casa, tanto com o marido quanto com os filhos, mas
a sombra de sua mãe permanecia inalterada em seu íntimo e a paciente interrompeu
o acompanhamento para começar a trabalhar, passando a frequentar o ambulatório de
maneira intermitente. Há pouco mais de um ano, teve mais algumas sessões psicoterápicas
devido a uma crise de pânico desencadeada com a notícia do falecimento da mãe, e
que foi rapidamente resolvida com o início da elaboração da imago materna,
que acabou levando a paciente a visitar seus irmãos após quase quarenta anos de
separação. A recente descoberta que um filho estava usando tóxicos a fez retomar
o tratamento por ter desencadeado nela uma nova crise de ansiedade, desta vez sem
síndrome do pânico, e também associada com a imago materna: as consequências que
o uso de álcool teve na vida da mãe e na criação dos filhos e o medo dela ter sido
para o filho o que a sua foi para ela. |