Resumo da Reunião Clínica
 

Uma senhora de mais de cinquenta anos de idade internou-se com um quadro de acentuada perda ponderal com tosse, epigastralgia e disfagia para sólidos e líquidos com regurgitação. O atendimento para esta paciente foi solicitado pela equipe de enfermagem em virtude da reação dela, julgada excessiva pela enfermagem, ao falecimento de outra paciente da enfermaria, mas depois ficou-se sabendo que a equipe médica suspeitou que ela estivesse com AIDS e a paciente reagiu muito mal à comunicação da hipótese diagnóstica: ficou muito angustiada, inconformada mesmo com a situação e sentindo-se traída pelo marido, falecido há três anos e que ela sabia que tinha uma vida sexual promíscua com prostitutas. Enquanto esperava o resultado do exame a paciente teve alguns atendimentos nos quais falou sobre a morte de sua filha caçula, que nasceu com hidrocefalia e mielomeningocele, há onze anos e contou que seus sintomas começaram após a morte do marido com dores no estômago (epigastralgia) e perda de apetite. Como o exame demorou a ficar pronto, a equipe médica deu alta à paciente, pois ela estava se alimentando mal na enfermaria e também para evitar que ela corresse algum risco de adquirir uma infecção hospitalar, pois havia a suspeita dela estar imunodeprimida pela AIDS. Após sair de alta o primeiro exame confirmou a infecção pelo HIV. A paciente encontra-se em acompanhamento ambulatorial clínico e psicológico.

Discutiu-se inicialmente a necessidade de preparo psicológico para todo e qualquer procedimento feito em uma enfermaria. No caso em questão, a possibilidade do marido ter passado para a paciente a doença contraída com prostitutas a atingiu duplamente: derrubou a defesa (recusa) por ela utilizada para evitar a plena consciência sobre a promiscuidade sexual do marido e a colocou na mesma situação das prostitutas. Com isso, sua imagem de si mesma, importante componente do seu eu, começou a se desintegrar abrindo uma grave quadro depressivo.

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