Um rapaz de pouco mais de vinte anos, caçula de três filhos, foi internado com dores
pelo corpo, principalmente em membros inferiores que quase o impediam de andar,
vermelhidão por toda a pele do corpo e feridas esfoliativas também disseminadas
pelo corpo, com início há aproximadamente três meses. Durante seu acompanhamento
o diagnóstico de eritrodermia psoriásica
foi estabelecido e
ficou-se sabendo que cinco meses antes do início da doença seu namoro de dois anos chegou ao fim, sua mãe
precisou ser operada e o paciente comemorou seu aniversário. Além disso, o paciente relatou levar uma vida sempre arriscada
profissionalmente e cheia de acidentes.
A postura do paciente para com
a equipe da enfermaria foi inicialmente retraída e desconfiada; sentia-se desassistido
e dizia não saber o porquê dos seus sintomas e qual seria sua doença, apesar estar
sendo devidamente informado sobre sua doença e seu tratamento. Essa atitude foi
mudando com o tempo, mas retornou quando o paciente foi prematuramente informado
sobre um possível segundo diagnóstico. O paciente voltou a se retrair, a se sentir
desassistido e houve uma acentuação de sua dependência em relação à mãe, que passou
a dormir no hospital, sempre reclamando de estar sobrecarregada com a assistência
que estava dando ao filho. Dias depois o paciente recebeu alta com orientação para
continuar seu tratamento em regime ambulatorial.
Na discussão do caso foi
assinalado que, na perspectiva da Psicologia Médica,
o ponto central deste
atendimento diz respeito à comunicação do diagnóstico e ao preparo psicológico necessário
a esta situação. A comunicação foi considerada precipitada e provavelmente induzida
por aspectos
contratransferenciais do profissional porque os aspectos
paranóides e regressivos do paciente, já evidentes logo no início da internação,
não foram levados em conta. A alta também foi considerada precipitada porque não
permitiu que importantes aspectos
psicodinâmicos do paciente, que seguramente
estavam interferindo e influenciando a relação do paciente com sua própria doença
e a adesão dele ao tratamento, fossem trabalhados. Assim, perdeu-se a oportunidade de
ajudar o paciente a elaborar sua experiência de separação, o adoecimento
da mãe, com quem tinha uma relação caracterizada por carência, pelo lado do paciente,
e por rejeição, pelo lado materno, assim como sua sensação de desamparo crônico.
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