Resumo da Reunião Clínica |
Uma mulher de quase cinqüenta anos, casada e com filhos, de aparência cansada e
sofrida, reinternou-se para se submeter a uma segunda
tireoidectomia parcial devido ao surgimento de novo nódulo benigno em sua glândula tireóide trinta
anos após a primeira cirurgia, realizada quando ainda adolescente. Teve apenas duas
consultas com o membro da equipe de Psicologia Médica associada à enfermaria, das
quais o primeiro contato foi inicialmente difícil porque a paciente não estava disposta
a conversar: além de ser uma pessoa retraída, estava chateada com o surgimento do
novo nódulo, com medo de ser câncer e apreensiva com a cirurgia, especificamente
com o fato de ficar anestesiada numa sala só com homens.
Contou que veio para o Rio com onze anos de idade, trazida por um casal conhecido
dos pais, para se tratar e depois voltar para a casa, mas o casal acabou postergando
ao máximo a cirurgia da paciente, que só ocorreu quando com quinze anos. Durante
esse tempo ficou trabalhando sem remuneração na casa desse casal, de onde acabou
fugindo um ano depois de operar-se por causa dos assédios sexuais cada vez mais
freqüentes do patrão. Foi trabalhar em outra casa onde acabou conhecendo e casando
com seu marido. O relacionamento com o marido é tenso, principalmente por causa
da sua frigidez sexual. Só voltou a ver seus familiares depois de casada e nunca
entendeu porque seus pais nunca a procuraram e também não vieram buscá-la. A cirurgia
foi um sucesso e o pós-operatório da paciente foi tranqüilo e sem intercorrências,
ao contrário do anterior, no qual sentiu muitas dores, teve hemorragia e passou
muito mal. |