Uma mulher de pouco mais de trinta anos, obesa, casada e mãe de dois filhos, foi
internada para avaliaçãodiagnóstica e tratamento de um quadro composto por diminuição
acentuada da força muscular dos quatro
membros e do pescoço. O atendimento da Psicologia
Médica foi solicitado pela chefia de enfermagem ao observar
a dificuldade que se
instalou entre os membros da sua equipe e a paciente já logo após a internação:
o grupocomeçou a queixar-se de que a paciente reclamava de tudo, estava muito nervosa
e agressiva, além de ser muito
pesada e não cooperar com o atendimento. Em virtude
disso, o trabalho da Psicologia Médica visou tanto o
atendimento da paciente quanto
da enfermagem, com cuja equipe foram feitas algumas reuniões.
A paciente esteve acompanhada quase todo o tempo por uma de suas irmãs, a quem chamava de “mãezinha”,
em contraste com a maneira que se referia à própria mãe: “a mãe real”. Também não se relacionava
bem com as outras irmãs. Sobre as circunstâncias do seu adoecimento, disse que estava vivendo um momento
ótimo da sua vida, elogiou muito seu marido, como pai, esposo e, principalmente, como homem, “apesar de ser
baixinho e franzino”. Disse que ambos eram muito ligados em sexo e que entendiam-se sexualmente muito bem.
Pouco antes de adoecer notou que seu interesse sexual havia diminuído.
Os exames realizados confirmaram o diagnóstico de
polidermatomiosite, e a paciente começou a melhorar antes mesmo
que a medicação começasse a fazer efeito, tendo sido necessário usar apenas doses mínimas de medicação.
Com a aproximação da alta, mostrou-se preocupada com sua volta para casa, principalmente em voltar a ter
que ajudar a “mãe real” nos afazeres domésticos. A paciente saiu de alta alguns dias depois para dar continuidade
a seu tratamento em regime ambulatorial.
A discussão foi iniciada ressaltando-se que a necessidade
de idealização da vida conjugal e a cisão
entre os dois aspectos da imago materna (a “mãezinha” e a “mãe real”) apontam para possíveis problemas familiares
que poderiam ter funcionado como agentes estressores no desencadeamento de
sua doença. Por outro lado, a erotização excessiva pode e costuma ser uma defesa contra sentimentos depressivos,
que no caso desta paciente seriam decorrentes da consciência destas dificuldades.
Finalizando a reunião, discutiu-se a possível relação entre a melhora rápida da paciente e a diminuição do estresse decorrente
da criação de um espaço de segurança propiciado pelo stabelecimento do
vínculo terapêutico. Nesse sentido, a alta funcionou como agente ansiogênico
provavelmente por significar o retorno da paciente para a situação stressante em que houve o desencadeamento da doença
estando, portanto, indicado a continuação do acompanhamento psicológico após a alta.
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