Resumo de Reunião Clínica
 

Uma mulher de quase quarenta anos, casada e mãe de dois filhos ainda bem pequenos, foi internada para fazer uma cirurgia de hérnia umbilical. Como em todas as cirurgias eletivas, a paciente internou-se já com todos os exames pré-operatórios realizados e seu atendimento foi solicitado porque seu médico reparou que ela estava sempre chorosa e passava a maior parte do dia deitada em seu leito, coberta até a cabeça. Seu médico achou que a paciente estava triste por ter deixado seus dois filhos pequenos em casa, mas ao ser entrevistada pela psicóloga da equipe de psicologia médica associada à enfermaria a paciente contou que havia se internado principalmente porque queria aproveitar a cirurgia da hérnia para fazer plástica em sua barriga, que havia ficado flácida e com muitas estrias após a segunda gravidez.  Ela não havia dito nada disso à equipe cirúrgica; havia apenas insinuado seu desejo e recebido a orientação que não seria possível fazer as duas cirurgias ao mesmo tempo. Seu choro não era de tristeza e sim de desespero. Em virtude da cirurgia estar agendada para a manhã seguinte, o foco do atendimento foi direcionado para a realização de uma interconsulta com o médico-assistente com a finalidade de informá-lo sobre a situação psicológica da paciente e o risco da mesma ser operada sem os devidos esclarecimentos e preparo. Ciente da situação da paciente, a equipe cirúrgica abordou diretamente o desejo da paciente e a impossibilidade dele ser realizado da forma como ela queria. A paciente entrou na cirurgia devidamente informada e com a perspectiva de realizar a cirurgia plástica em alguns meses. Sua recuperação pós-cirúrgica foi excelente.

A discussão foi centrada no debate sobre a importância da interconsulta no processo terapêutico. No caso em discussão, a interconsulta aproximou a equipe do drama da paciente: enquanto que a equipe estava preocupada com a doença (hérnia umbilical), a paciente estava preocupada com a preservação de sua relação conjugal e o destino da família, pois temia que o marido perdesse o interesse nela (como já havia ocorrido quando eram apenas namorados). Discutiu-se também a maneira onipotência como a paciente lidava com certas situações de sua vida: decidira ter o segundo filho contráriamente às ordens médicas, pois havia parido há poucos meses, e tentara realizar o desejo de fazer a cirurgia plástica sem expressá-lo claramente para a equipe cirúrgica.

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