Resumo de Reunião Clínica |
Um homem de mais de sessenta anos, casado, filhos e netos, foi internado para investigação de dor abdominal na região do hipocôndrio esquerdo, próxima às cicatrizes decorrentes de um acidente automobilístico sofrido há quarenta anos e no qual foi transfixado por uma barra de ferro. Vinha sendo acompanhado ambulatorialmente há quase dois anos sem melhora e foi internado para diagnostico diferencial que incluía o de somatização. Na enfermaria o paciente sempre se mostrou uma pessoa cordata, amável, disponível, nunca reclamava de nada e sempre elogiava as pessoas que o atendiam. Seu discurso era quase monotemático, girando sempre em torno da evolução da sua dor. Não a relacionava com nenhum evento de sua vida ou a qualquer outra coisa. Nada foi encontrado no vários exames a que foi submetido, exceto uma pequena massa em seu estômago, sem características de malignidade e sem nenhuma relação com a queixa álgica. O paciente melhorou enquanto estava sendo cogitada a possibilidade de uma investigação cirúrgica. A discussão girou em torno dos pacientes, como o do caso em discussão, que apresentam dificuldades simbólicas e se apegam a sintomas que são expressos pelo corpo. Foram citados vários autores que estudaram esses casos: Peter Sifneos, que os estudou a partir da alexitimia; Pierre Marty, a partir do tipo de funcionamento mental deles, caracteristicamente pobre em fantasias (pensamento operatório); Peter Giovachini, a partir do self vazio (“blank self”) e Abram Eksterman, a partir do conceito de lacunas cognitivas, que descreve os vazios simbólicos da mente relacionados com experiências traumáticas não elaboradas. Todos observaram que a dificuldade simbólica produz uma fixação ao sintoma com um discurso praticamente monotemático, centrado no sintoma como uma idéia prevalente, e sem emoção, devido ao controle dos impulsos amorosos e agressivos, dando ao todo uma aparência de neurose obsessiva. Esses pacientes, com suas queixas, que não melhoram e cujo exame não revela nenhuma patologia orgânica, são verdadeiros desafios para as equipes assistenciais. José Lopes Ibor os descreveu como sendo “el enfermo problema".
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