Resumo de Reunião Clínica |
Durante o acompanhamento psicológico
de uma paciente internada para tratamento de siringomielia
a terapeuta indicou
que a acompanhante, filha da paciente de pouco mais de vinte anos, também fosse
atendida pela Psicologia Médica
por perceber uma grande tensão entre as duas, embora
ambas se esforçassem para não demonstrar o quanto o convívio estava sendo difícil.
Durante suas consultas, a acompanhante relatou ser portadora de talassemia desde a infância e sofrer de depressão há muitos anos, além de já ter tentado contra
a própria vida por três vezes. Disse que sempre se sentiu o patinho feio e que desde
garota tem sentimentos de menos valia e pouco interesse pela vida, ao contrário
de seu irmão caçula, que sempre foi muito alegre e feliz, mas morreu em um desastre
automobilístico há pouco menos de um ano. Contou ainda que sempre admirou muito esse seu
irmão e nunca conseguiu ser como ele. Também
relatou grandes dificuldades no relacionamento com seu pai, de quem disse nunca ter
recebido carinho e amor. Esse também foi o motivo da sua separação conjugal após
três anos de casamento e é também sua queixa com seu atual namorado, que tem quase
a idade de seu pai (disse gostar de se relacionar com homens bem mais velhos). Pouco
antes da mãe se operar o relacionamento entre as duas se tornou mais claramente
belicoso e ambas decidiram que seria melhor a filha ficar mais em casa. Dias depois,
a mãe foi operada com sucesso, teve alta voltando para sua cidade natal.
Inicialmente foi ressaltado ser este
um caso que evidencia o quanto o acompanhante pode ter um papel de coadjuvante terapêutico
ou anti-terapêutico no tratamento dos pacientes. Neste caso, a acompanhante, por estar presa
na trama edípica, mantinha uma relação
ambivalente com a mãe, que
poderia repercutir na relação da equipe com a paciente trazendo o risco de iatrogenias
ou de afastamento da equipe. Com a abertura
de um espaço de interlocução especializado, a
agressividade presente na relação entre as duas, mas até então
reprimida, se tornou mais evidente e pode ser administrada de uma maneira
melhor por elas.
Em seguida, foi discutida a possível relação
entre o fato de ela ser portadora de uma doença infantil, que interfere muito nas
atividades infantis e no desenvolvimento físico, seus sentimentos depressivos e
o caráter fortemente erótico de todas as suas relações, pois é comum se observar
a erotização excessiva como defensa diante de sentimentos depressivos profundos.
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