Resumo de Reunião Clínica
 

Um senhor de quase oitenta anos, aposentado, casado, pai de sete filhos e com mais de dez netos, foi reinternado para tratamento cirúrgico de uma hérnia inguinal de alguns anos de evolução. Quando da primeira internação, há cerca de dois anos, os exames pré-operatórios constataram uma anemia e o paciente foi orientado a tratá-la ambulatorialmente. Ao se reinternar devido ao crescimento da hérnia, os novos exames pré-operatórios evidenciaram que o quadro anêmico permanecia inalterado. Por temer que o paciente acabasse se isolando na enfermaria, pois estava muito calado, seu médico assistente solicitou acompanhamento pela equipe de Psicologia Médica associada à enfermaria, durante o qual ficou-se sabendo que em casa ele não conseguiu seguir as recomendações médicas para tratar a anemia porque se alimentava mal. Sempre em voz baixa e em tom meio desanimado, relatou que sua vida era muito boa e que se sentia realizado por ter conseguido educar e criar bem seus filhos, todos bem encaminhados na vida. Disse não ter queixas da vida e sentia como se já tivesse cumprido sua missão, vivendo atualmente sem muita coisa para fazer, quase como se esperasse a morte chegar. Disse ainda que em sua vida aconteceram coisas ruins, que preferia não falar, mas deu a entender se tratar de traições e de arrependimentos por decisões tomadas, como quando não foi falar com uma pessoa (insinuando ser uma mulher) que havia conhecido no passado e de quem havia guardado uma forte impressão. O paciente continua em tratamento.

A discussão foi iniciada pela elucidação dos aspectos psicodinâmicos presentes na crise de desenvolvimento desencadeada pelo final da função sexual (andropausa) do paciente: o caráter de desistência e a aparência depressiva e dissimulada das queixas relativas ao seu passado. Em seguida, foram debatidos aspectos da relação corpo-mente relevantes para o caso em discussão.

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