Um jovem de pouco mais de
vinte anos, solteiro e estudante de nível superior, foi internado com quadro de
ataxia dos membros inferiores de evolução progressiva e alterações de comportamento.
Portador de vasculite cerebral, foi internado para se submeter a uma pulsoterapia,
pois seu quadro não estava apresentando melhoras com o tratamento ambulatorial.
Após a segunda aplicação de corticóide intravenoso apresentou alterações comportamentais
como recusar a alimentação, não querer tomar banho, passar a maior parte do tempo
deitado em seu leito e todo coberto isolando-se de todos, tornou-se ríspido e pouco
cooperativo com a equipe. Foi feito o diagnóstico de psicose e iniciou-se medicação
neuroléptica.
A doença do paciente se iniciou
há aproximadamente dois anos com fraqueza nas pernas e dificuldades na escrita.
Não conseguiu dar continuidade nem aos estudos nem ao trabalho. Na época também
perdeu a namorada e seu pai, com quem tinha um relacionamento conflituoso, faleceu
de câncer. A mãe do paciente apresentou dificuldades em aceitar o fato de o filho
ser portador de uma doença crônica incurável, cujo tratamento consegue apenas diminuir
a evolução da doença e a intensidade da sintomatologia. O paciente, que recebeu
alta após a última pulsoterapia, também demonstrou dificuldade em aceitar o fato
de estar doente, inúmeras vezes falou em desistir de tudo e preferir morrer.
Inicialmente discutiu-se
o diagnóstico diferencial entre
psicose orgânica e psicose funcional.
Em seguida, abordou-se o tipo de relação que o paciente estabeleceu com a equipe:
por não conseguir
elaborar e aceitar o fato de estar doente, ele fazia de
tudo para que a equipe dele desistisse e o mandasse embora. Por outro lado, não
entendendo o funcionamento
psicodinâmico do paciente, a equipe o rotulou
de psicótico, dele se afastando. Relacionado ainda com esse tema, foi debatido se
o objetivo terapêutico de aumentar a
consciência do paciente sobre sua doença
e sua situação de vida não poderia ser iatrogênico. Finalmente, discutiu-se
a possível relação entre a agressividade
do paciente e a ambivalência de sentimentos que ele apresentava em relação ao pai.
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