Resumo de Reunião Clínica
 

Um rapaz de dezesseis anos, mas com aparência de dez, diabético desde os quatro anos e com várias internações, foi reinternado devido a mais uma descompensação da diabete, desta vez acompanhada por edema de membros inferiores. Filho de pai diabético que não se trata, tem um irmão mais velho que é saudável e não vive com os pais. Durante a internação foi constatado que o edema era devido à descompensação cardíaca de uma grave miocardite que comprometeu mais de 70% da função cardíaca, provavelmente adquirida durante um quadro infeccioso indevidamente tratado. O comprometimento cardíaco levou ao hipodesenvolvimento corporal e a uma insuficiência renal crônica. O paciente evita quase todas as atividades sociais, restringindo sua vida a ir à escola quando consegue, assistir televisão, ler revistas em quadrinhos e desenhar a partir do que lê. Disse que raramente se arrisca a fazer um desenho “de sua própria cabeça” porque quando o faz invariavelmente desenha o irmão. Seu quadro é grave, com sobrevida de alguns anos. Tem indicação para transplante, mas dificilmente conseguiria sobreviver devido à diabete.
Ao internar-se mostrou-se quase sem nenhuma iniciativa, muito dependente de sua mãe e isolando-se das pessoas. A mãe, muito ansiosa e preocupada com seu filho, não aceitou o acompanhamento psicológico que lhe foi oferecido. Inicialmente mostrou-se arredio no contato com a terapeuta e muito assustado com a evolução de sua doença, embora nada falasse sobre isso.
Após a alta, numa consulta de revisão, o paciente relatou haver decidido desenvolver sua habilidade de desenhar, já conseguindo desenhar “de sua própria cabeça”; menos dependente da mãe para cuidar de sua diabete, já conseguia se aplicar insulina. O pai iniciou tratamento da diabete.

Inicialmente, foi discutida a possível influência positiva que a contratransferência da terapeuta teve sobre o paciente: muito mobilizada pela gravidade da situação clínica do paciente, a terapeuta não sucumbiu à tragicidade a vida do paciente, o que ampliou sua capacidade sublimatória e lhe infundiu a força necessária para desenvolver sua habilidade e dar algum sentido à sua vida.
Em seguida, abordou-se o relacionamento do paciente com sua mãe: o vínculo simbiótico existente entre ambos e o isolamento em que cada membro da família vive. Finalmente, foram debatidos alguns aspectos do acompanhamento psicológico da mãe do paciente: a resistência dela ao que lhe foi oferecido, a possibilidade dela estar assustada devido ao sentimento de culpa em relação ao filho, o possível papel preventivo em relação à futura perda do filho (profilaxia do possível luto patológico) e a indicação desse tipo de atendimento não ser feito pelo mesmo terapeuta do paciente. Foi assinalado ainda que o trabalho da Psicologia Médica efetuou uma mudança na relação equipe médica-paciente: ao perceber um maior amadurecimento do paciente, tornou-o responsável pelo seu tratamento e passou a conversar diretamente com ele sobre as prescrições, não mais usando a mãe como intermediária.

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