Resumo de Reunião Clínica
 

Uma mulher de mais de setenta anos, casada e mãe de dezoito filhos, foi internada pela primeira vez em sua vida devido a litíase biliar. Informou que vinha sentindo dores abdominais há mais de dez, que se agravaram há três anos, mas só há poucos meses procurou ajuda médica. Embora o tratamento para o seu problema seja cirúrgico, ainda não conseguiu ser operada por ser hipertensa e diabética. Assim que se internou as dores abdominais quase que desapareceram e a diabete e a hipertensão começaram a ser controladas, mas devido a alterações eletrocardiográficas não pode ser operada. Recebeu alta com encaminhamento para a cardiologia.
Filha única de seus pais, teve mais cinco irmãos do segundo casamento de sua mãe. Não conheceu seu pai, que era alcoólatra, violento e abandonou sua mãe assim que ela nasceu. Perdeu quatro filhos ainda pequenos e uma filha com pouco mais de trinta anos, que estava justamente mudando-se para longe dela com o marido. Até hoje não superou esta última perda. É evangélica e freqüenta a igreja com assiduidade desde muito jovem.

A discussão foi iniciada pela compreensão psicodinâmica do caso, na qual foram ressaltados: a possível formação reativa da paciente diante do desejo filicida do pai que a levou a ter dezoito filhos, o luto patológico relacionado com a perda de sua filha e, ligado a ele, a pouca disponibilidade interna da paciente em buscar ajuda médica levando-a a padecer por mais de dez anos de uma dor abdominal crônica e a não tratar adequadamente a diabete e a hipertensão e a repressão do componente agressivo. Ao ser abordado o tipo de alta que a paciente recebeu, aventou-se a possibilidade da agressividade reprimida ter sido projetada na equipe médica influenciando na decisão de não operar a paciente e encaminhá-la para outra equipe.

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