Resumo de Reunião Clínica |
Uma mulher de quase quarenta anos foi internada com dores abdominais com irradiação
para a região lombar de início há poucos meses, logo após ter-se submetido à cirurgia
para correção de varizes nos membros inferiores. Exames revelaram apenas a existência
de um edema no pâncreas e a paciente foi internada para elucidação diagnóstica,
com os diagnósticos iniciais de pancreatite
e de varizes pélvicas (do ovário). A discussão foi iniciada assinalando-se ser este mais um caso em que fica evidente a inter-relação entre crise existencial e adoecimento. Como a maioria das pessoas que foram vítimas de violência sexual, a paciente também não conseguia deixar ninguém se aproximar dela (o que provocava o ciúme do marido e a desconfiança dos familiares e da equipe) e cobrava das pessoas atenção e dedicação na tentativa inconsciente de compensar a agressão sofrida. A experiência de vínculo da paciente estava comprometida tanto pela não elaboração da experiência traumática como também pelo sentimento inconsciente de culpa. A primeira a deixou com medo de todos e o segundo, que decorre dos desejos edípicos inconscientes, a deixou com medo de se aproximar (de seduzir a todos como imagina ter seduzido o tio e o pai). O fato de não procurar tirar a limpo a paternidade de sua filha fala a favor do desejo edípico inconsciente de manter a ilusão de a mesma ser filha do seu pai, o que fortalece o sentimento inconsciente de culpa. Este sentimento, por trazer o risco de desencadear a busca de expiação, por vezes através de um tipo particular de indução iatrogênica conhecida como síndrome de eutanásia deve ser o foco da atenção da Psicologia Médica. |