Resumo de Reunião Clínica
 
Um homem de pouco mais de quarenta anos, casado e pai de dois filhos, foi internado para tratamento cirúrgico de síndrome de Arnold Chiari. Filho de pais separados porque o pai, usuário de bebidas alcoólicas, não suportou as reclamações da esposa. Como o pai, ele também foi usuário de bebidas alcoólicas e também tinha insatisfações conjugais, tanto que por duas ou três vezes quase se separou. A última briga do casal, na qual disse mais uma vez que iria se separar ocorreu pouco antes dele se internar. A relação do paciente para com a psicóloga teve dois momentos opostos: antes da cirurgia foi reticente e praticamente se restringiu a responder as perguntas; depois da cirurgia mostrou-se comunicativo, contou sua história revelando suas culpas. A cirurgia teve sucesso e o paciente saiu de alta em boas condições.

   

A discussão girou em torno da técnica a ser empregada no preparo psicológico pré-operatório. Falou-se da importância da técnica da anamnese não dirigida na obtenção da história da pessoa, instrumento fundamental para a criação do espaço de segurança necessário para o desenvolvimento do vínculo terapêutico no qual poderão ser trabalhadas as ansiedades persecutórias do paciente em relação à cirurgia, a melhor maneira de diminuir o estresse pré, per e pós-operatório. É sabido que o medo da morte desencadeado pela cirurgia mobiliza dramas pessoais não elaborados a partir dos quais se organiza a psicodinâmica da busca da expiação tão freqüente no pré-operatório. No caso em discussão tratava-se do drama edípico evidenciado pela presença dominadora do fantasma paterno na vida mental do paciente. Por vezes o sentimento de culpa é tão avassalador que o paciente só consegue abordar o assunto após a cirurgia, como se o fato de ter sobrevivido significasse uma prova do perdão divino.

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