Resumo de Reunião Clínica |
Um homem de pouco mais de trinta anos, HIV+, foi internado com queixa de fraqueza
decorrente de emagrecimento de quinze quilos nos últimos meses, intensa diarréia
com inúmeras evacuações diárias, sangramento anal e candidíase orofaríngea.
Também vinha fazendo uso regular e abusivo de bebidas alcoólicas. Durante seu acompanhamento
por um dos membros da equipe de Psicologia Médica associada à enfermaria contou ser esta sua primeira internação e que sabia estar contaminado com o vírus
da
AIDS há pouco mais de vinte dias. Contou ainda que apesar de ter todas
as informações necessárias para saber como se proteger desta doença nunca usou preservativo.
Através de interconsultas com a médica assistente a psicóloga soube que a
equipe estava estranhando a forma tão grave de início da doença e o fato do paciente
ter contado uma história diferente sobre sua contaminação para cada membro da equipe.
Apesar de todos os esforços da equipe, o tratamento não conseguiu reverter o quadro
infeccioso e consumptivo e o paciente veio a falecer com pouco mais de um mês de
internação. Antes de morrer o paciente
mencionou o fato de carregar um segredo há muitos
anos, e que a equipe suspeitava ser sua homossexualidade. A psicóloga que o atendia
desenvolveu um quadro diarréico após receber a notícia do falecimento do seu paciente.
Inicialmente, a discussão abordou algumas das
dificuldades contratransferenciais
em se atender pacientes
terminais. Foi assinalado que não raramente a identificação do terapeuta com o paciente
pode funcionar como um processo defensivo contra a dor decorrente da perda do paciente,
podendo engendrar um quadro de luto patológico
no terapeuta
por inibir o processo de luto.
Em seguida, discutiu-se o tema do segredo e o
mecanismo defensivo de cisão
do ego
através do qual o paciente manteve sua vida dupla. |