Resumo de Reunião Clínica |
Uma mulher de pouco mais de 40 anos foi internada
para investigação diagnóstica do quadro de crises de
ausência. Durante sua
internação foi submetida a exame eletroencefalográfico (EEG) que revelou alterações
típicas de epilepsia. Foi solicitado acompanhamento pela equipe de Psicologia Médica
associada à enfermaria porque a paciente também apresentava episódios de pseudocrises
epilépticas, típicas de
histeria.
Durante o acompanhamento a paciente contou que
suas crises se iniciaram há aproximadamente dez anos, logo após a morte do pai, também
portador de epilepsia. Além deste, vários outros elementos da história de vida da
paciente reforçaram a impressão de sempre ter havido uma forte ligação afetiva entre
filha e pai, que era um homem bravo, por vezes agressivo, com uma postura repressora
em relação ao desenvolvimento amoroso da paciente e usuário contumaz de bebidas
alcoólicas. A paciente casou-se com um homem muito parecido com o próprio pai, até
no uso regular, constante e abusivo de bebidas alcoólicas, teve seus filhos e viveu
um casamento infeliz, sexualmente reprimida e insatisfeita por vários anos. Apaixonou-se
por outro homem há alguns anos, com quem viveu um tórrido romance e separou-se,
indo, com os filhos, com ele viver. Não mais se sentindo bem em viver com um homem
que não era seu marido, voltou para o marido após alguns meses para poder criar
bem seus filhos (sic), principalmente a filha que estava começando a namorar. Neste
momento suas crises pioraram e a paciente procurou tratamento.
A partir da conexão entre a perda do pai e o
início da doença da paciente, questionou-se a possibilidade do quadro de
luto patológico ter atuado no desencadeamento da doença orgânica, seja diretamente através
das modificações na transmissão neural que os quadros depressivos provocam, seja
indiretamente como agente estressor
mobilizando a fragilidade orgânica cerebral
pré-existente.
Em conexão com o tema anterior, discutiu-se o
papel da ligação edípica entre filha e pai
na escolha objetal da paciente
e, diante das dificuldades histriônicas da paciente com a
sexualidade,
aventou-se a possibilidade de ter havido uma breve suspensão sintomatológica das
crises de ausência durante o período de liberdade erótica da paciente.
Finalmente foi realçada a importância da continuidade
ambulatorial deste acompanhamento, que não ocorreu devido à alta precoce da paciente.
Por falta de comunicação entre as equipes não houve o necessário do preparo psicológico
para a alta e o acompanhamento ambulatorial.
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