Uma
mulher
de
quase
40
anos,
em
tratamento
ambulatorial há
quase um
ano
por
sofrer
de
síndrome
do
intestino
irritável,
com
um
grave
quadro
diarrêico de várias
evacuações
líquidas
por
dia,
há aproximadamente seis meses começou a
apresentar
queda
de
cabelo
e foi-lhe diagnosticado alopécia
areata. Há
pouco
mais
de um
mês
veio
encaminhada
para
tratamento
psicoterápico. Vive
com
uma
companheira
há
mais
de dez
anos
e
seus
sintomas
orgânicos
se iniciaram
concomitantemente
com
o início da
piora
de
sua
relação
amorosa.
Já
na
primeira
sessão
relatou
fatos
da
sua
vida
que
não
havia contado a
ninguém.
Disse
que
foi
dada
em
adoção
quando
tinha um
ano
e,
criada
como
empregada
doméstica
em
um
ambiente
de
violência,
chegou a
ser
trancada
em
um
quarto
escuro
com
ratos
por
ter
se recusado a
cumprir
uma
tarefa
doméstica.
Aos nove
anos
foi estuprada
pelo
próprio
padrasto.
Ao
ser
levada
para
conhecer
a
mãe
biológica, soube
que
foi a
única
dos oito
filhos
a
ser
dada
para
adoção
e passou a
odiar
sua
mãe
biológica.
Desde
o
abuso
sexual
não
fala
com
o
padrasto,
a
quem
também
odeia, e
culpa
a
mãe
adotiva
por
não
tê-la defendido. Escutou dela
insinuações
de
que
teria provocado a
situação
por
usar
short
em
casa.
É
homossexual
e
nunca
conseguiu se
envolver
com
um
homem.
Durante
as
sessões
mostra-se
sempre
muito
angustiada
e, repetidamente,
fala
sobre
o
abuso
e as
violências
que
foi
vítima.
Tem
idéias
suicidas
e chegou a
comprar
veneno
de
rato
para
se
matar,
o
qual
entregou
para
a
terapeuta.
Após
as primeiras
sessões
apresentou uma
melhora
da
sintomatologia intestinal e
depois
disso começou a
faltar.
A paciente continua
em
tratamento.
Após
uma
exposição
sobre
as
afecções
orgânicas da
paciente
feita
pelo
médico
dermatologista
presente
à
reunião,
o
exame
da
situação
clínica
foi
iniciado.
A
discussão
se iniciou
com
um
acurado
exame
do
grave
quadro
psicodinâmico apresentado
pela
paciente.
Por
conta
das trágicas
experiências
que
passou
ainda
precocemente
em
sua
vida,
a
paciente
não
só
não
teve
como
desenvolver
uma
relação
diádica
satisfatória
como
sua
experiência
edípica foi pervertida
pelo
do
estupro
que
foi
vítima.
Acabou
inconscientemente
se identificando
com
ratos
que
devem
ser
exterminados
por
serem
agentes
de
sujeira
e
podridão.
Através
da
homossexualidade,
a
paciente
parece
ter
conseguido
encontrar
um
razoável
equilíbrio
emocional,
o
qual
ficou ameaçado
com
a possibilidade do
término
da
relação.
A
discussão
foi encerrada
após
terem
sido debatidas as
possíveis
estratégias
terapêuticas nesta grave e difícil situação clínica. Além das questões transferenciais e
contra-transferenciais presentes, a dificuldade clínica decorre
também do limite estreito entre se
conseguir
ajudar
a
paciente
a sentir-se legitimada
em
sua
escolha
homossexual
e os
possíveis
efeitos
patogênicos
(através
do
aumento
do
estresse
sobre
seu
frágil
organismo)
que
a
consciência
plena de
sua
tragédia
pessoal
poderá
trazer.
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