Resumo de Reunião Clínica
 

Um homem de pouco mais de 30 anos veio ao hospital trazido por familiares por não estar se alimentado e por estar muito emagrecido. Internado, seu aspecto era cadavérico, quase em caquexia. Foi preciso colocar-lhe fraldão por não estar conseguindo deambular. Os exames confirmaram a suspeita de ser portador de HIV, além de apresentar um quadro de tuberculose disseminada e candidíase oral. Apesar da precariedade de seu estado geral, seu comportamento era querelante, por vezes agressivo e sempre desconfiado. Recusava a alimentação e a toda hora dizia querer voltar para casa de tios, onde vivia desde sua separação conjugal. Usou sempre de evasivas ao falar sobre as circunstâncias de seu adoecimento, deixando a suspeita de ter sido fruto de experiências homossexuais. Apesar do descrédito inicial da equipe, o paciente melhorou e saiu de alta em bom estado geral. Como sempre se mostrou pouco envolvido com seu tratamento, saiu deixando a dúvida se daria continuidade ao mesmo.
Contou
ter sido criado pelos avós paternos ao ser abandonado pela mãe com apenas alguns meses e pelo pai não mostrar nenhum interesse em dele cuidar. Casou-se com pouco mais de 20 anos com uma conhecida sua, mãe solteira apesar de ainda ser adolescente na época. Com ela teve uma filha e um relacionamento tumultuado por infidelidade de ambas as partes e separações.

Discutiu-se, inicialmente, a possível relação entre a precariedade social inicial do paciente, caracterizada pelo seu quase total desenraizamento decorrente do abandono precoce dos pais, e a precariedade em sua organização mental, caracterizada por traços paranóides e uma importante dificuldade em estabelecer vínculos. A dificuldade do paciente aderir ao tratamento foi correlacionada com estes elementos históricos. Também relacionado ao tipo de funcionamento mental do paciente, foram discutidos aspectos contratransferenciais presentes no caso e decorrentes da indução iatrogência do paciente, a todo momento induzindo a equipe a desistir dele.

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