Resumo de Reunião Clínica |
Uma mulher de 50 anos foi internada
para retirada de um aneurisma localizado na carótida interna. Em seu
acompanhamento por um dos membros da equipe de Psicologia Médica
associada à enfermaria, já no primeiro atendimento, e quase que
imediatamente, revelou-se desesperadamente aflita,
negando, peremptoriamente, a
possibilidade de vir a morrer na cirurgia. Em quase todos as consultas o
tema girou em torno de sua morte, seja prepotentemente afirmando que não
iria morrer, seja negociando que não poderia morrer porque tinha um
filho ainda pequeno, seja porque tinha muita fé em Deus etc. Entremeando
com seu desespero, contou não ter sido criada pelos pais. Foi criada por
um casal de tios, em cuja casa trabalhava e era muito maltratada. Foi
vítima de violência física, inclusive abuso sexual. Vive, há mais de 10
anos, com seu segundo marido, homem depressivo, com quem não se entende
e não gosta de conviver. Tem um filho pequeno desse segundo casamento
com quem também não se entende.
A partir da constatação deste ser
mais um caso de síndrome de eutanásia, no qual o desejo
inconsciente de morrer tinha
uma relação direta com a biografia da paciente, discutiu-se o impacto
que a violência sexual precoce costuma ter na
sexualidade infantil e os
reflexos desta situação, que costuma incluir fortes sentimentos
inconscientes de culpa, no desenvolvimento psicológico da pessoa. A
impossibilidade de elaboração
destas experiências tem o efeito
de fazer com que situações atuais sejam vividas sob a ótica do
trauma passado. A paciente viveu
um dos exames pós-operatórios como um estupro. |