Resumo de Reunião Clínica |
Uma mulher de quase 50 anos, casada há 30 anos e mãe de 3 filhos, foi internada para investigação de dor epigástrica acompanhada de emagrecimento de 20 quilos em um ano, vômitos, sensação de empanzinamento depois de comer, mesmo pouca quatidade, e história de gastrite no passado. No início de sua internação, ela mesma pediu para ser atendida pela equipe de Psicologia Médica associada à enfermaria: sentia-se “muito nervosa” e achava que adoecera devido aos sofrimentos que teve na vida e por se preocupar com tudo. Contou que apanhou do marido, que sempre foi muito ciumento, por 20 anos. Ainda vive com ele, embora estejam separados de fato há quase 10 anos, "por causa dos filhos". Disse estar, agora, pensando em separar-se legalmente, mas tem pena do marido e teme que ele se torne um mendigo depois da separação. Abrindo mão de seus próprios projetos profissionais, dedicou sua vida a cuidar de seus familiares: seus filhos e seus pais. Há cinco anos perdeu os pais e um irmão no espaço de um ano e apresentou um episódio depressivo. Com poucos dias de internação sonhou que tinha um bebê que, ao cair do seu colo, quase foi devorado por 3 carneiros. No sonho, a paciente conseguiu salvar o bebê e levá-lo a um hospital. Os exames confirmaram a hipótese da internação: câncer de estômago e, dias depois, a paciente teve outro sonho. Sonhou com a irmã, o ex-marido desta e o sobrinho, o qual aparecia em 3 diferentes versões: numa foto dele com 5 anos, ele como de fato era aos 5 anos e ele como adulto. A ressecção cirúrgica completa do tumor não foi possível, a paciente começou a desesperar-se e a perder a vontade de viver. A paciente permanece internada, mantém-se sem nenhuma esperança e quer sair de alta para morrer em casa. A partir da elucidação do foco do atendimento psicológico - a tendência culposa da paciente (que acredita ter provocado a própria doença, que é responsável pelo futuro do marido, dos filhos e de todos) que a empurra para um quadro de desistência e que também pode induzir iatrogenicamente a equipe a desistir dela - foi discutida a relação entre o objetivo do acompanhamento psicológico, determinado a partir da decisão sobre o foco do atendimento, e os possíveis limites assistenciais (do terapeuta e do paciente) em lidar com o tipo de material profundo fornecido pelo paciente. Finalizando a reunião, dissecou-se o papel e a importância dos sonhos no tratamento de paciente orgânicos. |