Resumo de Reunião Clínica
 

Uma mulher de mais de 40 anos, em seu segundo casamento e com três filhos, procurou o Serviço de Dermatologia há alguns anos por apresentar um quadro de prurido generalizado. Foi encaminhada para acompanhamento ambulatorial concomitante pela Psicologia Médica quando ficou constatado que a coceira se intensificava quando ela se aborrecia. Está em tratamento psicológico há mais de 2 anos e, recentemente, precisou mudar de terapeuta devido à saída da psicóloga que a acompanhava.
A paciente foi mãe solteira aos 16 anos e seu filho foi criado pelos avós, de quem a paciente tem severas críticas. Seu primeiro casamento acabou após muitos anos de ofensas verbais, sempre em torno de sua idoneidade moral e de sua sexualidade, e agressões físicas. Ao sair de casa foi proibida de criar seus dois outros filhos, com os quais só voltou a ter contato agora, passados mais de 15 anos. Seu filho mais velho cumpre pena por assalto e sua filha vai ser mãe solteira também aos 16 anos. Suas principais queixas são: ter vindo de uma família “toda errada”, onde a violência e o alcoolismo estão presentes, e não conseguir se sentir amada por ninguém. Seu atual marido lhe é infiel e constantemente lhe ofende, também em relação à sua idoneidade moral e sexualidade. Sente-se triste, deprimida ao notar estar presa na mesma situação do seu casamento anterior, e humilhada com as ofensas e com o comportamento sexual, promíscuo e bissexual, do marido. Apesar de querer, não consegue se separar.
A paciente associa o início de sua sintomatologia à prisão do filho. Atualmente, ocorre uma exacerbação da coceira sempre que sabe sobre as traições do marido.

A discussão se iniciou ressaltando-se ser este mais um caso em que se observa a relação entre sintoma dermatológico e problemas na esfera da sexualidade. Foi lembrado que o prurido generalizado, o eczema, o vitiligo, a alopécia e a psoríase são as únicas doenças nas quais se pode falar ainda hoje, e com segurança, de uma etiologia psicológica de sintomas orgânicos. A partir da constatação da presença constante de situações triangulares, com brigas, traições e sexo, na vida da paciente, juntamente com suas associações entre violência e sexo, levantou-se a possibilidade dela ter sido vítima de abuso sexual na infância e apontou-se a diferença entre trauma psicológico real e fantasias traumáticas sobre a realidade.
A reunião foi encerrada após discutir-se o objetivo terapêutico de ajudar a paciente a elaborar a cena sexual infantil, que vem se repetindo constantemente em sua vida. Foram discutidas as três maneiras mais comuns da mente tentar integrar uma experiência vivida à vida mental: através da consciência sobre a experiência, pela reencenação da experiência e através de meios culturais (livros, teatro, cinema, televisão etc.).

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