Resumo de Reunião Clínica |
Uma mulher de 42 anos, casada e mãe de 2 filhos, foi internada para a
retirada cirúrgica de um tumor benigno localizado no cérebro. Ao chegar
para o primeiro atendimento, a psicóloga encontrou a paciente deitada em
seu leito e ladeada por uma boneca. Imediatamente, a paciente explicou
que a boneca era de sua filha e que a trouxera para se sentir perto dos
filhos. Em seguida, disse estar muito nervosa, com medo da cirurgia e
contou que perdeu um irmão também de tumor cerebral (hematoma
intracraniano decorrente de um acidente). Sua irmã mais velha morreu de
pneumonia aos 16 anos e, pouco tempo depois, o menino que cuidava
faleceu de leucemia também aos 16 anos. Seu pai morreu de
derrame
cerebral há 11 anos. A mãe da paciente mantém intocável, arrumado com
todas as bonecas, o quarto da filha falecida.
Iniciou-se a discussão pelo intenso medo que a paciente
estava de morrer durante o ato cirúrgico, possivelmente estimulado pela
dificuldade de elaborar suas
próprias perdas, o que ficou evidente em dois momentos: a partir da
presença da boneca da filha em sua cama, numa
identificação dela com a
maneira da mãe lidar com a perda da filha e no episódio de
desorganização mental no qual a paciente sentia-se no lugar dos mortos
(CTI) e prestes a ser morta. A simbologia da boneca da paciente foi
discutida com profundidade e mais dois aspectos foram assinalados: a
busca de amparo através da boneca e o uso da boneca como um
fetiche dos filhos, de quem a
paciente não conseguia sentir-se próxima e, portanto, culpada e
merecedora do castigo de ser morta. |