Resumo de Reunião Clínica
 

Uma moça de 18 anos veio encaminhada para tratamento ambulatorial por apresentar quadro de enurese noturna. Apresenta este sintoma desde a infância, o que a tornou uma criança e, depois, uma adolescente envergonhada e com poucas amigas. Ainda bebê foi dada para ser criada por uma tia porque sua mãe a teve quando adolescente e não tinha condições de criá-la. Vive, desde então, com seus pais e irmãos adotivos. Sempre teve muito pouco contato com sua mãe biológica, que tem outros filhos de outros homens. Sua mãe adotiva sempre foi muito rígida com ela e sempre a proibiu de sair e de namorar, ameaçando-a de que, se assim o fizesse, acabaria como a mãe biológica, vulgar e com uma vida sexual descontrolada. Por sua parte, a paciente nunca conseguiu enfrentar essas proibições, mesmo considerando-as injustas, e também nunca demonstrou interesse em namorar.

Frisando-se que a enurese está entre as doenças mais estudadas pela medicina psicossomática, ressaltou-se a vinculação dessa enfermidade com o desenvolvimento da sexualidade. Em seguida, discutiu-se o drama identificatório da paciente com sua mãe biológica, figura desvalorizada por seu comportamento sexual. Foi assinalado que a sintomatologia da paciente estaria situada na confluência entre o desenvolvimento interrompido da sexualidade e seu drama de legitimação como filha. Finalmente, debateu-se a condução do tratamento psicoterápico, em regime ambulatorial, da paciente. Foi assinalado a importância de se abrir espaço para a paciente falar de sua sexualidade de maneira objetiva, como devem ser tratados os fatos da vida, sem a excessiva moralidade da mãe adotiva e sem a falta de moralidade da mãe biológica, possibilitando-se assim a retomada do desenvolvimento de sua sexualidade. Tal fato também contribuirá para diminuir a necessidade de legitimação da paciente, na medida que estará se legitimando como paciente.

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