Resumo de Reunião Clínica
 

Uma mulher de 48 anos, natural do sertão nordestino, foi internada para avaliação clínica e preparação para cirurgia de troca de válvula mitral em outro hospital. Teve febre reumática na infância e fez a primeira cirurgia de troca valvular aos 20 anos, quando já apresentava quadro clínico de insuficiência valvular avançado. Órfã de mãe aos 14 anos, não conheceu o pai, que morreu antes dela nascer. Casou-se aos 15 anos e teve 3 filhos. Os dois mais velhos morreram quando ainda crianças devido a doenças infecciosas. Veio para o Rio há mais de 20 anos e sua única filha saiu de casa quando com 14 anos. Desde então quase não se falam, sendo que a paciente guarda um forte ressentimento em relação ao comportamento da filha para com ela.

A discussão foi inicada ressaltando-se a história de perdas precoces da paciente e seu humor depressivo-culposo, provavelmente relacionado com sentimentos hostis não elaborados.
Discutindo-se o objetivo da Psicologia Médica neste caso, argumentou-se que, embora a paciente venha fazendo acompanhamento regular do seu problema médico, demonstrou ter pouca consciência de doença, em virtude de ainda esperar ser curada. Foi assinalado que, ao manter essa expectativa, a paciente não se prepara adequadamente para a situação de dependência que provavelmente viverá num futuro próximo, pois é portadora de uma doença crônica e incapacitante, que costuma evoluir para esse tipo de situação. Nesse sentido, a péssima relação existente entre a paciente e sua única filha é um fator complicador que demanda um maior acompanhamento psicológico.

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