Resumo de Reunião Clínica |
Uma mulher de quase quarenta anos, casada e mãe de dois filhos, internou-se para submeter-se a uma tireoidectomia parcial para corrigir um bócio multinodular, acompanhado de hipotireoidismo. Pessoa cautelosa e reservada, logo evidenciou carregar um forte sentimento de culpa que a fazia sentir-se constantemente ameaçada de morte. Chegou à enfermaria com medo de morrer devido a um diagnóstico de câncer, que contou ter recebido já há algum tempo e que não se confirmou com os exames complementares. Passou a temer morrer com a anestesia e só se acalmou depois de contar que aos 14 anos teve um “amor bandido” com seu tio, que ao ser descoberto causou a separação do casal. Desde então sente-se muito culpada pelo destino de sua tia, que se tornou alcoólatra, e pensa ininterruptamente em morrer. A paciente teve ainda duas consultas antes da cirugia, nas quais, com a ajuda da psicóloga, pôde começar a elaborar a situação. A paciente foi operada com sucesso e demonstrou interesse em continuar o acompanhamento psicológico após a alta. Discutiu-se inicialmente o
impacto que relatos como o desta paciente
causam em quem os escuta. Diferenciando-se da maioria dos relatos de
incesto, neste não havia o tom de vitimização. Não houve violência e nem
vítimas: duas pessoas viveram um “amor bandido”. E como sói acontecer
com aqueles que realizam a cena edípica,
o sentimento de culpa, inconsciente ou mesmo
consciente, leva à busca de
castigo e expiação, ao martírio psicológico constante, por vezes
aplacado com ajuda de drogas, e à deformação do caráter. No caso, todos
os envolvidos sofreram importantes conseqüências: declínio social,
alcoolismo e infelicidade mesclada com culpa, que no caso da paciente,
era uma culpa consciente. |