Uma
mulher de pouco mais de 40 anos, mãe de um adolescente e vivendo com seu
segundo marido, foi internada para uma segunda cirurgia para correção de
uma hérnia de disco na região lombar. A primeira cirurgia ocorreu há 5
anos, a paciente só fez pouco tempo de fisioterapia porque as dores
pioraram e não ela fez nenhum acompanhamento ambulatorial. Há seis meses
voltou a sentir as mesmas dores insuportáves (sic) nas costas, um pouco
abaixo da cintura e que se irradiam por todo o membro inferior esquerdo,
causando impossibilidade de deambulação. Contou também que às vezes
sofre quedas na rua e em casa. Como passou a mancar, acha que ficou com
uma perna mais curta depois da cirurgia.
A
paciente estava muito nervosa na enfermaria. Estava assustada com a nova
cirurgia, ao mesmo tempo em que encontrava-se muito aflita com sua
situação conjugal, pois desde que as dores voltaram vem sentindo seu
companheiro mais distante e suspeita que ele já tenha outra mulher. Por
outro lado, revelou uma intensa e erotizada relação com seu filho, fruto
do seu primeiro casamento, no qual ela foi vítima de violência física e
sexual. Contou ter sido vítima de abuso sexual por parte de seu padrasto
na infância e expulsa de casa ao contar para a mãe. Com a proximidade da
cirurgia, expressou desejo de morrer como forma de alívio do seu
nervosismo.
A
cirurgia transcorreu sem nenhuma complicação, mas não eliminou e nem
aliviou as dores da paciente. O companheiro saiu de casa quando ela
voltou da cirurgia e, no momento, a paciente vem fazendo acompanhamento
ambulatorial e foi encaminhada para tratamento psicológico.
A
discussão foi iniciada ressaltando-se que a ausência dos colegas
neurocirurgiões impossibilitava a discussão sobre a indicação das
cirugias, na medida em que a realização das mesmas não melhorou a
sintomatologia da paciente.
Em
seguida, foi sublinhada a quantidade de material apresentado pela
paciente (experiência infantil de incesto, relacionamento incestuoso com
o filho, medo de morrer na cirurgia e suspeita de estar sendo abandonada
pelo companheiro), apesar de pouco mais de uma semana de internação, e a
dificuldade de se trabalhar tal complexidade em um hospital geral em tão
pouco tempo. Nestas situações, a
elaboração do
diagnóstico psicodinâmico a
partir da História da Pessoa
é fundamental para a condução do caso.
A
discussão se encaminhou para o tipo de funcionamento mental da paciente,
caracterizado pela iminência de irrupção psicótica diante das exigências
da vida. Tal fragilidade mental é característica dos
estados limites ou bordelines.
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