Resumo de Reunião Clínica
 

Uma moça de 19 anos foi internada para averiguação diagnóstica e tratamento de uma ferida em uma de suas pernas. Esteve internada por 4 meses perto de sua cidade natal com o diagnóstico de leishmaniose, mas cujo tratamento, que incluiu uma tentativa de enxerto homólogo, foi ineficaz. Por esta razão veio para o Rio, onde seu pai reside com sua atual esposa. Acompanhada por ele em sua internação, estava chorosa e com dificuldade em aceitá-la por medo de ter que ficar internada muito tempo.
Manteve este estado de ânimo por toda a primeira semana de internação e teve muita dificuldade em se relacionar com a equipe da enfermaria neste período. Com a continuidade dos atendimentos, contou que conheceu um rapaz de quem engravidou aos 15 anos e com quem morou por 2 anos. Após o início de sua doença seu companheiro mudou de comportamento, passando a não voltar mais para casa todos os dias, até que saiu definitivamente de casa. Com isso ela voltou a viver com sua mãe e seu irmão mais moço. Nesta mesma época seu pai veio para o Rio de Janeiro trabalhar, e como ela mesmo disse saber que iria acontecer, acabou constituindo nova família “deixando ela, a mãe e o irmão para trás”. Está morando com o pai e sua segunda esposa desde dezembro do
ano passado.
O diagnóstico anterior de leishmaniose acabou sendo afastado, assim como foram afastadas as possibilidades de câncer, de problemas circulatórios e de AIDS. Está-se pesquisando a possibilidade de auto-mutilação. A paciente começou a aceitar o fato de que teria de ficar internada por mais tempo, o relacionamento com a equipe melhorou e, no momento continua internada em pesquisa diagnóstica

A discussão desenvolveu-se a partir da constatação de que as circunstâncias do adoecimento da paciente envolveram uma maternidade precoce, a separação do pai e a própria separação do namorado. Também foi ressaltada a relação ambivalente da paciente com a mãe. Algumas hipóteses quanto à possibilidade de auto-mutilação foram levantadas e apontou-se como importante fator emocional envolvido no caso a possibilidade da doença ser uma justificativa inconsciente para a paciente se manter, no mínimo há 3 anos, afastada da mãe e do filho.

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