Resumo de Reunião Clínica |
Um paciente de 68 anos ficou dois meses internado por insuficiência cardíaca, cirrose hepática, diabetes mellitus e hiperpigmentação a esclarecer. Durante este tempo foi acompanhado por um membro da equipe de Psicologia Médica do C.M.P. associada a esta enfermaria. Seu tema preferido, presente em todas as sessões, era a violência. Em tom sempre arrogante e desdenhoso, contava histórias de corrupção de políticos, de álcoólatras, traficantes e estupradores, finalizando a todas sempre com a lembrança de sua cidadezinha natal no nordeste com a conclusão de que lá as coisas eram melhores porque estes problemas eram resolvidos à bala. Nem parecia que ele, portador de cirrose hepática, havia feito uso abusivo de bebidas alcoólicas e que um de seus filhos, envolvido com o tráfico de drogas, fora assassinado numa das batalhas da guerra entre quadrilhas rivais. Foram dezenove atendimentos, nos quais o terapeuta sentiu grande dificuldade em estar com o paciente. As histórias e a maneira de contá-las, intercalando sua fala com cuspidas e escarradas, faziam o terapeuta sentir-se enojado. Ressaltando-se os aspectos violentos do paciente, seu uso maciço de
identificações projetivas
para se livrar destes conteúdos inconscientes e o medo dele morrer, como
contava que acontecia com aqueles que denunciavam os criminosos,
discutiu-se a situação comumente vivida pelo terapeuta que, mesmo
percebendo e entendendo a dinâmica mental
do paciente, encontra
dificuldades em nela interferir, neste caso por conta de
sentimentos
nele despertados pela relação com seu paciente. |