Resumo de Reunião Clínica |
Um
homem de aproximadamente 60 anos foi internado com um quadro de
psoríase
com início há três meses. Casado, usuário de bebidas alcoólicas há
muitos anos e recém aposentado, foi trazido ao hospital por sua esposa
para ser internado sob a alegação de que ela não estava mais conseguindo
cuidar dele em casa. Na enfermaria o paciente mostrava-se alegre e
comunicativo, fazendo várias brincadeiras e contando piadas, mas, desde
o início, a equipe estava cética quanto à sua adesão ao tratamento. Iniciou-se a discussão ressaltando-se que a defesa maníaca do paciente pode ter iatrogenicamente induzido a equipe a dar alta precocemente, sem uma adequada preparação para a continuidade do tratamento em regime ambulatorial. Aberto o tema da dificuldade de adesão ao tratamento que certos pacientes apresentam, fez-se a pergunta: como enfrentar este desafio? A resposta não está em se criar um novo protocolo de atendimento, mas em saber o que tratar, se a doença ou o doente. Para a doença, a Medicina está sempre criando protocolos de acordo com a evolução do conhecimento científico e nos quais os pacientes podem ou não ser incluídos dependendo das indicações e contra-indicações de seu quadro clínico, como aconteceu com este paciente. Para se tratar o doente é mister se ter uma compreensão antropológica do adoecer que inclui a compreensão da crise aberta pelo próprio adoecimento e das circunstâncias nas quais a doença irrompeu. No caso apresentado, a doença irrompeu num homem de 60 anos no qual a aposentadoria relembrou a crise (gerada? acompanhada?) de impotência que ocorreu há doze anos atrás. Tanto há doze anos como há 3 meses surgiram psoríase e crise conjugal, agora agravada com sinais depressivos importantes. Dar alta sem ter esta situação minimamente elaborada pelo paciente é dar alta precoce e com maior probabilidade de não se conseguir a adesão do paciente ao tratamento. |