Uma
mulher de 38 anos, locomovendo-se em cadeira de rodas, foi internada
devido a paralisia e dor nos membros inferiores com início há
aproximadamente 5 anos. O atendimento da equipe de Psicologia Médica
integrada à enfermaria foi solicitado pelo médico assistente por achá-la
pouco participativa na enfermaria e no tratamento: concordava com tudo
que lhe era dito, fazia tudo que lhe era solicitado, mas parecia se
interessar pouco por tudo que estava lhe acontecendo. Os exames
revelaram a presença de um tumor cerebral benigno.
Nos
atendimentos psicológicos a paciente logo revelou viver uma difícil
situação conjugal na qual não sentia ser levada em consideração pelo
marido, que dizia ser uma pessoa explosiva e
agressiva. Submissa,
preferia se omitir a ter que enfrentar uma discussão para defender seus
pontos de vista. Dizia: “Tenho
que sofrer muito para que ele me
respeite”. A dificuldade de se comunicar com seu médico também era
patente e parecia que ela esperava ser maltratada também por seu médico.
Em relação à sua doença, também não expressava seus sentimentos: por ser
Evangélica achava que tinha que se conformar com tudo.
Com
a evolução do atendimento psicológico, a proximidade da cirugia
pressionando-a e o medo de morrer podendo ser expresso e
elaborado
ajudou a que sua revolta em relação ao rumo que sua relação conjugal
havia tomado e em relação à sua doença pudessem ser minimamente
expressas e elaboradas. A paciente teve um ótimo per e pós-operatório e
saiu de alta bem. No momento encontra-se em tratamento fisioterápico e
já está conseguindo dar os primeiros passos.
A
partir da observação do tempo transcorrido entre o inicio da
sintomatologia e a formulação diagnóstica, a discussão se iniciou com o
tema da iatrogenia. A
possibilidade de ter havido incompetência médica ou, então, ter ocorrido
uma obnubilação na capacidade diagnóstica do primeiro médico por indução
irracional da paciente foram examinadas.
A
psicodinâmica de vítima, os ganhos
secundário e, principalmente, o
primário de poder imputar culpa nos outros estabelecendo uma relação
com fortes aspectos sado-masoquistas e foram resaltados. A discussão se
encaminhou para o possível risco de
transferência negativa no
tratamento destes pacientes.
Finalmente, chamou-se a atenção para o fato de que este tipo de
psicodinâmica pode levar a
escolhas de objeto do tipo que a paciente fez.
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